Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2024) indicam que uma mulher é vítima de feminicídio no Brasil a cada seis horas. Estudo acadêmico da Universidade Presbiteriana Mackenzie aponta que aproximadamente 40% das sobreviventes de violência doméstica atendidas na Casa Sofia (SP) identificam-se como evangélicas.
Barreiras religiosas:
A pesquisa de Valéria Cristina Vilhena, realizada entre 2020-2022, identificou três obstáculos recorrentes:
Culpa religiosa: 68% das entrevistadas relataram receio de “quebrar votos matrimoniais”;
Pressão comunitária: 57% temiam julgamento por expor agressores em cargos eclesiásticos;
Orientação inadequada: 45% receberam aconselhamento para priorizar “oração e submissão” em vez de denúncia.
Depoimento chave:
Meire Castorino, missionária da Igreja Cristã Projeto Ágape (Juiz de Fora/MG), descreveu o padrão:
“Mulheres de obreiros têm resistência redobrada para denunciar. Preservam aparências de casamento estável para proteger a imagem do agressor perante a igreja. Seu isolamento durante atividades coletivas é frequentemente um sinal de alerta.”
“Muitas vezes a gente vai identificar que uma mulher está sendo agredida ou vivendo tipos de violência por conta do seu comportamento, muitas vezes retraído, recluso, sem muito envolvimento com os demais grupos, com as demais mulheres da igreja”, completou.
Falhas no Acolhimento:
Casos documentados no estudo mostram que:
Líderes religiosos interpretaram violência como “prova espiritual” ou “ataque maligno” em 32% dos registros;
Vítimas foram desencorajadas a buscar ajuda jurídica em 29% das ocorrências analisadas.
Abordagem Recomendada:
Para Castorino, os cristãos devem agir com justiça, independentemente das partes envolvidas, uma vez que isso também reflete a vontade de Deus.
“O aconselhamento bíblico deve combinar apoio espiritual e orientação legal. Provérbios 31:8-9 ordena defender os indefesos. Em risco de morte, a proteção imediata precede qualquer processo de restauração familiar”, disse ela.
E completou: “A maneira que a igreja pode acolher essas vítimas é oferecendo aconselhamento pastoral bíblico, tratando com discrição e orientando a vítima pela Palavra de Deus, mas também, em alguns casos, segundo as leis que regem a ‘terra’”.
A especialista propõe ainda:
Preparação financeira independente para mulheres vulneráveis;
Educação preventiva para jovens sobre relacionamentos saudáveis;
Treinamento de pastores para identificar sinais de violência.
Contexto Jurídico:
A Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) prevê medidas protetivas imediatas. Desde 2015, o feminicídio é crime hediondo (Lei 13.104), com penas de 12 a 30 anos de reclusão.
O Disque 180 registrou 82.407 denúncias de violência doméstica no primeiro trimestre de 2025, sendo 28% envolvendo mulheres com perfil religioso ativo.
*(Fontes: Fórum Brasileiro de Segurança Pública – Anuário 2024; Dissertação “Violência Doméstica e Comunidades de Fé” – Mackenzie; Dados da Central de Atendimento à Mulher)* Com: Comunhão.