O pastor e escritor norte-americano John Piper afirmou que os conflitos interpessoais enfrentados por cristãos estão, em última instância, enraizados em uma realidade espiritual invisível, o que costuma ser descrito como batalha espiritual. A declaração foi feita em um episódio recente de seu podcast.
Respondendo a um ouvinte sobre a aplicação prática de Efésios 6.12 — “Nossa luta não é contra carne e sangue, mas contra forças espirituais nas regiões celestiais” —, Piper disse que o texto não nega a existência de adversários humanos, mas insere esses conflitos em um plano espiritual mais amplo” “’Carne e sangue’ aqui se refere a seres humanos em oposição à realidade demoníaca sobrenatural”, afirmou. “Mas Paulo teve adversários humanos reais, assim como nós também temos”.
Piper apontou passagens como 1 Coríntios 16.9, onde Paulo menciona “muitos adversários”, e 2 Coríntios 11:13–15, em que o apóstolo descreve certos líderes religiosos como “servos de Satanás”: “É patentemente óbvio, e todos sabem disso, que Paulo teve adversários humanos de verdade para enfrentar. E nós também”, afirmou o pastor. “Todos esses são humanos fazendo a bagunça, certo?”
Apesar disso, Piper destacou que Paulo entendia esses confrontos humanos como manifestações de uma batalha espiritual. Em Efésios 4.14, por exemplo, Paulo fala sobre “astúcia humana” que induz ao erro, linguagem que, segundo Piper, reflete as estratégias de Satanás. Ele citou Efésios 2.1–3 para explicar que o pecado humano está sempre sob influência do “príncipe das potestades do ar”.
“Em certo sentido, não há separação em nossa guerra contra a pecaminosidade humana e os planos demoníacos. Eles se sobrepõem; estão interligados”, afirmou.
Como exemplo dessa sobreposição, Piper mencionou 2 Coríntios 2.10–11, onde Paulo relaciona o perdão a um ato de resistência contra os desígnios de Satanás. “Uma pessoa que peca contra nós está em uma situação em que temos que travar guerra espiritual contra a obra satânica de Satanás, que destrói comunidades”, disse Piper. “Essa é oposição humana de carne e osso, e é um desígnio satânico para destruir a igreja.”
Segundo o pastor, Efésios 6.12 não minimiza o conflito humano, mas revela que há uma realidade espiritual por trás dele. “Quando diz: ‘Não lutamos contra carne e sangue, mas contra [as forças demoníacas]’, acho que Paulo quer dizer: não lutamos contra meros humanos. A oposição contra nós neste mundo é sempre maior do que isso”, explicou.
Piper também citou 2 Coríntios 4.4 — que afirma que os incrédulos têm a mente cegada pelo “deus deste século” — e Atos 26.17–18, no qual Jesus comissiona Paulo para abrir os olhos dos povos e libertá-los do poder de Satanás.
Ele reiterou que o chamado cristão inclui vestir “toda a armadura de Deus”, conforme Efésios 6, como resposta prática ao conflito espiritual. “É isso que devemos fazer: vestir toda a armadura de Deus e caminhar triunfantemente no Evangelho e no poder do Espírito”, disse, de acordo com o The Christian Post.
Rejeição
Pesquisas mostram que a doutrina ortodoxa pregada por Piper não é aceita por muitos cristãos norte-americanos. Segundo levantamento da Gallup realizado em 2015, 89% dos entrevistados disseram acreditar em Deus, mas apenas 61% afirmaram crer na existência de Satanás. Dados do Pew Research Center, em 2014, indicaram que 72% acreditam no Céu, enquanto apenas 58% creem no Inferno.
Em outro episódio, publicado em 2024, Piper comentou por que Deus permite que Satanás continue atuando no mundo. Segundo ele, ao permitir a permanência de Satanás, Deus revela mais claramente tanto a gravidade da cegueira espiritual quanto a glória do poder de Cristo. “Somos duplamente escuros: a escuridão das nossas próprias algemas e a escuridão das portas trancadas de Satanás”, afirmou Piper.
Ele comparou a situação à prisão de Pedro, que foi libertado tanto das correntes quanto dos portões fechados: “Se Satanás permanecer, e formos capazes de derrotar seus enganos ao contemplarmos as belezas superiores de Cristo, então não apenas o poder superior de Cristo será glorificado, mas também a beleza superior de Cristo será glorificada.”
Segundo Piper, a natureza humana está cega para o valor supremo de Cristo devido à depravação espiritual. “Somos tão corruptos que não conseguimos enxergar que Cristo é uma beleza superior, um valor superior, uma grandeza superior e, portanto, uma satisfação superior a tudo o mais”, concluiu.