A crise alimentar em Cuba tem se agravado e impactado diretamente a vida de comunidades cristãs, que enfrentam não apenas a escassez de alimentos, mas também a crescente perseguição religiosa.
Em 2024, o país ocupa a 26ª posição na Lista Mundial da Perseguição, sendo o país latino-americano mais alto nesse ranking elaborado por organizações de defesa da liberdade religiosa.
O pastor Antonio*, com mais de três décadas de ministério, relata que o cenário se deteriorou de forma significativa: “O país está em crise há muitos anos, mas os últimos anos foram os piores em termos de escassez de alimentos”. De acordo com o The Economist, trata-se da pior crise desde a década de 1990, quando o colapso da União Soviética interrompeu o apoio econômico ao regime cubano.
O modelo econômico comunista agrava a situação: “Ao contrário de outros países, aqui em Cuba você não pode vender o que produz em sua fazenda. Tudo deve ser vendido ao governo a preços que não cobrem nem os custos de produção, e é o governo que distribui ou vende os produtos. Se isso não mudar, nada vai melhorar”, explicou Miguel*, comerciante e também pastor.
Igrejas tentam reagir, mas enfrentam limitações
Além da falta de alimentos, os cubanos sofrem com a escassez de gasolina, medicamentos e produtos básicos. O Observatório Cubano de Direitos Humanos informou que sete em cada dez cidadãos já deixaram de se alimentar por falta de comida ou dinheiro. “Vimos muitos doentes, membros da igreja ou seus familiares, sendo mandados de volta para casa sem tratamento”, lamentou Antonio*.
Em meio a esse contexto, a igreja tem buscado oferecer apoio espiritual e prático: “A igreja não é apenas um lugar de culto, mas também um espaço de esperança e solidariedade”, destacou o pastor. No entanto, a falta de recursos dificulta a continuidade de muitas ações de assistência.
O governo cubano também tem aumentado as restrições sobre líderes religiosos. “As restrições impedem que os pastores participem de congressos internacionais em que costumavam arrecadar fundos para ajudar cubanos vulneráveis. O governo teme que pastores os ‘difamem’ ou colaborem com organizações estrangeiras para derrubar o regime”, afirmou Miguel*.
Apoio internacional
A organização cristã Portas Abertas tem atuado para mitigar os efeitos da crise. Desde 2021, distribuiu alimentos a aproximadamente 500 famílias. Segundo Josué Váldez*, parceiro local da entidade, “embora o número de beneficiários seja pequeno comparado ao total de cristãos afetados no país, representa um progresso”.
Além da distribuição de alimentos, a entidade apoiou a criação de pelo menos sete projetos de geração de renda, conduzidos por igrejas locais. Iniciativas como o cultivo de cacau e a venda de porcos já beneficiaram mais de 30 pessoas diretamente.
A vigilância e a pressão sobre líderes religiosos permanecem elevadas. Contudo, comunidades cristãs em diversas regiões continuam se organizando para cuidar umas das outras. Mesmo com as limitações, a fé e a cooperação entre os fiéis têm sido apontadas como instrumentos essenciais de resistência.
*Os nomes foram alterados por razões de segurança.
Ajuda para quem mais precisa
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