A Embaixada do Estado da Eritreia, em Washington, recusou-se a receber uma carta que pedia a libertação de sete líderes cristãos detidos há mais de 20 anos sem acusações formais. A manifestação ocorreu em 21 de agosto, do lado de fora da sede diplomática, e foi organizada pela campanha Vozes pela Justiça da Religious Liberty Partnership, com apoio de entidades como 21 Wilberforce, Set My People Free, Christian Freedom International e Jubilee Campaign.
O protesto antecedeu o Dia Internacional em Memória das Vítimas de Atos de Violência, celebrado nesta sexta-feira, 22 de agosto. Grupos cristãos em diferentes países também realizaram vigílias, procissões e reuniões de oração para chamar a atenção da comunidade internacional sobre a situação. Segundo os organizadores, os sete detidos permanecem sob custódia no Centro de Investigação Criminal Wengel Mermera, uma prisão de segurança máxima classificada pela Comissão dos EUA para a Liberdade Religiosa Internacional como “atroz”.
Carta rejeitada pela embaixada
Após os discursos, Ella Elwin, representante da Christian Freedom International, tentou entregar à embaixada uma carta assinada por organizações e indivíduos em defesa dos líderes cristãos. O documento argumentava que as prisões violam a Constituição da Eritreia, de 1997, a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos e o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos. A embaixada não aceitou o material. Lou Ann Sabatier, diretora de comunicações da 21 Wilberforce, informou que os grupos pretendem enviar a carta por outros meios.
Testemunhos de exilados
Dois membros da comunidade copta eritreia, residentes nos Estados Unidos, viajaram de Delaware para participar do ato. Entre eles, Araya Debessay, que vive há mais de 40 anos no país e disse ao The Christian Post ter se tornado “persona non grata” na Eritreia após assinar uma carta crítica ao governo em 2000. “Não há liberdade religiosa na Eritreia. Há muitos que estão sendo perseguidos por causa de suas crenças religiosas”, declarou.
Outro participante, Haile Tesfay, nos EUA há quase 20 anos, afirmou: “Não existe liberdade religiosa ou de crença na Eritreia. Tudo é controlado pelo governo, e há infiltração do governo em todas as instituições religiosas”.
Líderes cristãos detidos
Durante a manifestação, cartazes com a inscrição “Libertem os 7” exibiam fotos dos líderes presos. Wendy Wright, da Christian Freedom International, detalhou os casos:
- Rev. Million Gebreselassie, pastor e anestesista, preso em junho de 2004.
- Dr. Kuflu Gebremeskel, presidente da Aliança Evangélica Eritreia, detido em 2004, sofre de hipertensão e diabetes.
- Rev. Gebremedhin Gebregiorgis, padre ortodoxo, preso em novembro de 2004 por ensinar em língua local.
- Rev. Tekleab Menghisteab, padre ortodoxo, também preso em 2004, diagnosticado com hipertensão.
- Rev. Kidane Weldou, da Igreja do Evangelho Pleno, preso em 2005, apresenta danos oculares agravados pela prisão.
- Dr. Futsum Gebrenegus, padre ortodoxo, detido em 2004 por envolvimento em movimento de renovação da Igreja Ortodoxa.
- Rev. Haile Naizge, ex-líder da Visão Mundial, preso em 2004 e afastado da família desde então.
Histórico de perseguição
Faith McDonnell, da organização Katatismos Global, lembrou que os protestos em frente à embaixada remontam a 2005 e destacou denúncias de maus-tratos em prisões do país. Ela mencionou o caso da cantora gospel Helen Berhane, que relatou ao então presidente Donald Trump, em 2019, ter passado 32 meses em um contêiner por não renegar sua fé.
De acordo com relatos apresentados no ato, prisioneiros cristãos enfrentam torturas físicas e psicológicas, incluindo práticas chamadas por sobreviventes de “Jesus Cristo”, em que a vítima é suspensa com os braços amarrados em posição semelhante à crucificação.
A Missão Portas Abertas classifica a Eritreia em sexto lugar na Lista Mundial de Perseguição atualizada para 2025. Já o Departamento de Estado dos Estados Unidos mantém o país africano na categoria de “País de Preocupação Particular”, por violações consideradas “sistemáticas, contínuas e flagrantes da liberdade religiosa”.