Forças russas, incluindo unidades da polícia antiextremismo, têm interrompido cultos cristãos em territórios da Ucrânia ocupada, especialmente de congregações ligadas ao Conselho de Igrejas Batistas. Segundo o grupo norueguês de direitos humanos Forum 18, pastores vêm sendo multados sob acusações de “atividade missionária ilegal”.
De acordo com o Fórum 18, as igrejas do Conselho de Igrejas “optam por não buscar registro oficial em nenhum país onde operam” e “se recusam a notificar as autoridades sobre o início de suas atividades”. As autoridades russas, acrescenta o relatório, consideram que o exercício da fé nessas condições “é ilegal”.
Invasões a igrejas
Em 8 de junho, durante a celebração de Pentecostes, policiais invadiram um culto do Conselho de Igrejas Batistas em Krasnodon, na região de Luhansk, sob controle russo. No dia 10 de agosto, agentes voltaram a agir durante um culto dominical em Sverdlovsk, também em Luhansk, filmando os participantes.
Após a reunião, a polícia revistou o imóvel onde a igreja se reúne, alegando ter um mandado judicial baseado em suspeita de que o local armazenava armas. Publicações religiosas encontradas foram fotografadas. O pastor Pyotr Tatarenko e o representante do proprietário do imóvel foram interrogados pelo major Gennady Turko, do Centro Antiextremismo.
Um comunicado divulgado pela congregação no Telegram relatou que a principal exigência das autoridades era que a igreja se registrasse oficialmente.
Multas por “atividade missionária ilegal”
No mesmo contexto, o Tribunal Municipal de Krasnodon considerou o pastor Vladimir Rytikov culpado de “atividade missionária ilegal” por liderar uma congregação não registrada em Pentecostes. Em 14 de julho, ele foi multado em 45.000 rublos (cerca de R$ 2.475,00).
A decisão desconsiderou que Rytikov é aposentado e responsável por um filho de 36 anos com sequelas neurológicas graves. Ele recorreu ao Supremo Tribunal de Luhansk, mas a multa foi mantida. Mais de 50 fiéis acompanharam a audiência em apoio ao pastor.
Após a decisão, Rytikov declarou: “As acusações eram principalmente por se recusarem a se registrar. Expliquei que, por uma série de razões, não nos registramos. Uma delas é o dever do pastor de informar as autoridades sobre a vida dos membros da igreja e sobre o culto, e isso seria uma traição”.
Destruição de livros religiosos
Outro caso ocorreu em 30 de junho, quando Oksana Volyanskaya foi julgada pelo Tribunal Distrital de Starobesheve, em Donetsk, por realizar atividades religiosas sem utilizar o nome oficial completo da organização. Ela foi multada em 10.000 rublos (cerca de R$ 550,00) e teve seus livros religiosos condenados à destruição.
A decisão entrou em vigor em 12 de agosto, após a missionária optar por não recorrer, de acordo com o Evangelical Focus.
Na mesma região, duas igrejas protestantes registradas segundo a legislação russa foram punidas em junho pela mesma acusação: não usarem o nome oficial completo em seus prédios e materiais impressos. Casos semelhantes também foram registrados contra uma comunidade judaica e uma comunidade católica romana em Donetsk.