Ed René Kivitz, que deixou a presidência da IBAB recentemente, afirmou que não existe uma doutrina sobre o Evangelho que se imponha sobre as diferentes tradições, mas inúmeras interpretações distintas entre si. A afirmação foi feita durante entrevista a um podcast.
Kivitz, marcado por sua defesa polêmica da “atualização da Bíblia”, participou do podcast Sem Filtro e foi questionado pelo apresentador Rodolfo Mariz sobre seu posicionamento progressista: “O Evangelho mudou? Qual é o fenômeno que fez o senhor pensar diferente em relação aos textos bíblicos? Porque o texto é o mesmo”, abordou Mariz.
Diante do questionamento contundente, Kivitz reagiu com uma resposta franca: “Não existe Evangelho. Não existe Evangelho. Quando você diz o Evangelho não mudou, isso aí que você tá dizendo que não mudou, não existe”.
Segundo Kivitz, o que existe são “centenas de leituras do Evangelho”: “Vamos imaginar o seguinte: de que Evangelho nós estamos falando? Quando eu tinha 17 anos e eu fui pro seminário, pra Faculdade Teológica Batista de São Paulo, eu fui colocado num contexto, tendo sido criado numa Igreja Batista, do universo batista, da Convenção Batista Brasileira. Certo? Quando eu cheguei no seminário, eu descobri que existia uma tal de Convenção Batista Nacional. ‘Não é a mesma coisa?’ Não, não é a mesma coisa. Por quê? ‘Porque esses caras aqui da Convenção Batista Nacional têm uma experiência com o Espírito Santo, que é uma heresia’. Como assim? Tem batista independente, batista regular, batista não sei o que lá”, declarou.
De maneira indireta, o ex-presidente da IBAB admitiu que mudou em relação a seu começo de ministério: “Então o que aconteceu? Simples, eu estudei. Eu descobri que, se os batistas são esse espaço aqui, a tradição de dois mil anos de fé cristã tem os presbiterianos, os metodistas, os católicos carismáticos. Os batistas da África são diferentes dos batistas da Europa, os batistas da Europa são diferentes dos batistas dos Estados Unidos, e assim vai”.
“E mais do que isso, eu descobri que a gente evangélico de tradição reformada, a gente acha que o cristianismo ou o Evangelho começou com Martinho Lutero e com João Calvino, começou em 1517 na Reforma Protestante. Tem 1500 anos antes de teologia que foi desenvolvida, elaborada, discutida. Eu descobri que tem o catolicismo romano, tem o catolicismo romano antes da Reforma, o catolicismo romano depois da Reforma, tem a igreja ortodoxa do Oriente que rompeu com o catolicismo romano no ano 1000. Nós protestantes rompemos em 1500, os caras já romperam no ano 1000”, acrescentou.
Para justificar sua explícita simpatia ao universalismo, Kivitz deu a entender que adotou a visão inspirado no cristianismo ortodoxo, que é predominante no mundo oriental: “Fui estudar sobre salvação, doutrina da salvação, soteriologia do cristianismo ortodoxo. Qual foi o resultado? Não achei céu e inferno. Como assim um Evangelho que não tem céu e inferno? Para eles essa discussão é periférica, porque para eles a Salvação não é um lugar para onde você vai depois que você morre, é o tipo de gente que o Espírito Santo forma em você”, finalizou.