Um estudante do ensino médio esfaqueou o próprio irmão até a morte em Mbale, no leste de Uganda, um dia após a vítima declarar publicamente a conversão ao cristianismo.
O caso ocorreu em 01 de setembro, nas proximidades da Escola Secundária Mbale, e resultou na morte de Shafiki Wasike, de 19 anos. O suspeito, identificado como Akram Kairoki, colega de escola e irmão da vítima, foi detido nos dias seguintes pela polícia local.
Segundo relatos colhidos pela comunidade escolar, Wasike foi atingido por duas facadas — uma no peito e outra na região das costelas do lado esquerdo — quando caminhava rumo à escola com Kairoki, na manhã de 01 de setembro. “Por que meu irmão me esfaquearia? Não fiz nada de errado com ele. É apenas uma mudança de fé e uma adesão à fé cristã”, disse Wasike, já ferido, ao colega Jonathan Kabaale, antes de morrer no Hospital Regional de Referência de Mbale.
De acordo com o pastor David Wabomba, do Bible Evangelism Ministries, Wasike entregou sua vida a Cristo em 31 de agosto, durante um evento evangelístico ao ar livre que incluiu um debate entre cristãos e muçulmanos. “Passei algumas horas orientando Wasike no caminho da salvação e o convidando para ir à igreja no domingo seguinte”, afirmou o pastor. “Depois de três horas, Wasike me ligou e disse que seu irmão estava lhe enviando uma mensagem ameaçadora, dizendo que ele estava envergonhando a família e os fiéis muçulmanos, colocando sua vida em risco”.
O pastor acrescentou que, ao retornar para casa na noite de 31 de agosto, Wasike contou ter sido pressionado pelo irmão a renunciar à nova fé. Ainda segundo Wabomba, Kairoki teria dito que a família não aceitava a prática de duas religiões sob o mesmo teto, exigindo a recusa imediata do cristianismo.
No momento do crime, os gritos de Wasike chamaram a atenção de três estudantes — Jonathan Kabaale, Ronald Mukhwana e John Michael Musamali — que acionaram um transporte de motocicleta para levá-lo com urgência ao hospital. Wasike não resistiu aos ferimentos.
A polícia iniciou buscas por Kairoki, que havia se escondido após o ataque. Em comunicado, o porta-voz policial Rogers Taitika, da região de Elgon, informou que equipes rastrearam o suspeito em áreas de Busoga e Buganda, até localizá-lo em Nakwigalo, no Conselho Municipal de Busolwe, distrito de Butaleja. “Ele está agora sob nossa custódia na delegacia de polícia da cidade de Mbale e será levado a julgamento em breve”, disse Taitika, de acordo com informações do Christian Daily.
O porta-voz agradeceu à comunidade pelas informações que levaram à prisão do suspeito e reiterou: “Como polícia, queremos lembrar ao público que qualquer pessoa com mais de 15 anos pode ser levada ao tribunal para responder por acusações criminais”.
O sepultamento de Wasike ocorreu no Conselho Municipal de Kabwagasi, na casa ancestral da família. O pastor Wabomba celebrou o funeral em 08 de setembro e relatou que familiares e membros do clã se recusaram a tocar no corpo, alegando que Wasike havia se tornado um infiel.
A Constituição de Uganda e demais leis do país garantem a liberdade religiosa, incluindo o direito de propagar a própria fé e de se converter. No cenário religioso nacional, os muçulmanos representam até 12% da população, com maior concentração nas regiões orientais, contexto no qual se insere o caso de Mbale.
Segundo o pastor Wabomba, Kairoki tomou conhecimento da conversão do irmão por meio de um vizinho muçulmano que participara do debate inter-religioso em 31 de agosto, ocasião em que o próprio pastor debatou com um líder identificado como Sheik Abudallah. O episódio antecedeu as mensagens de ameaça mencionadas por Wasike e o ataque consumado na manhã seguinte.
As autoridades locais ainda não divulgaram a data da primeira audiência. Até o momento, a acusação formal é de assassinato.