Após a divulgação de um relatório que denuncia mais de 7 mil cristãos assassinados na Nigéria desde o início de 2025, o comediante e apresentador Bill Maher criticou a continuidade da violência no país.
Na sexta-feira, 26 de setembro, Maher abordou o tema no programa Real Time with Bill Maher, que reúne debates com convidados de diferentes espectros políticos. Na mesma edição, a deputada Nancy Mace (Partido Republicano, Carolina do Sul) elogiou a iniciativa e agradeceu ao apresentador por pautar o assunto, apontando falta de cobertura da mídia sobre a tragédia.
Ao comentar a baixa repercussão, Maher afirmou: “Nigéria, o fato de essa questão não ter chegado ao conhecimento das pessoas é impressionante. Se você não sabe o que está acontecendo na Nigéria, suas fontes são péssimas. Você está em uma bolha”. Em seguida, declarou: “Não sou cristão, mas eles estão matando sistematicamente os fiéis na Nigéria. Já mataram mais de cem mil desde 2009. Queimaram 18 mil igrejas. Esses são os islâmicos, o Boko Haram”.
De acordo com o Christian Daily, Maher também criticou a ausência de protestos públicos nos Estados Unidos: “Isso é uma tentativa de genocídio muito maior do que o que está acontecendo em Gaza. Eles estão literalmente tentando exterminar a população cristã de um país inteiro. Onde estão os jovens protestando contra isso?”.
Dados principais do relatório
O documento da Sociedade Internacional para as Liberdades Civis e o Estado de Direito (Intersociety) reporta mais de 7.000 cristãos assassinados nos primeiros 220 dias de 2025 na Nigéria. Segundo a ONG, os números equivalem a média de 35 mortes por dia e foram repercutidos pela Newsweek. A organização Portas Abertas aponta a Nigéria como principal epicentro da perseguição religiosa contra cristãos, concentrando mais mortes por fé do que o restante do mundo somado.
A Intersociety registra que, desde 2009, a violência deslocou ao menos 12 milhões de cristãos. Foi nesse ano que o Boko Haram iniciou a insurgência com o objetivo de instaurar um califado na Nigéria e em áreas do Sahel. Nos 16 anos seguintes, a entidade estima 189 mil civis mortos, incluindo cerca de 125 mil cristãos e 60 mil muçulmanos não radicais.
Na Lista Mundial da Perseguição 2025 da Missão Portas Abertas, a Nigéria ocupa o 7º lugar entre os países onde é mais difícil ser cristão. O levantamento indica que, dos 4.476 cristãos mortos por sua fé no período analisado globalmente, 3.100 (69%) foram assassinados na Nigéria. Conforme o relatório, “a medida da violência anticristã no país já está no máximo possível”, segundo a metodologia aplicada.
Na região centro-norte, onde há maior concentração de cristãos, milícias extremistas Fulani atacam comunidades agrícolas, com centenas de mortes registradas. No norte, grupos jihadistas como Boko Haram e o Estado Islâmico na Província da África Ocidental (ISWAP) ampliam a violência por meio de invasões, sequestros, estupros e assassinatos, sobretudo em áreas com baixa presença do governo federal.
O documento também alerta para o avanço da violência no sul e para o surgimento do grupo Lakurawa, ativo no noroeste; com armamento sofisticado, seria ligado à rede Al-Qaeda por meio da insurgência Jama’a Nusrat ul-Islam wa al-Muslimin (JNIM), originária do Mali.
Risco persistente
Embora a Nigéria garanta, em lei, maior liberdade religiosa do que outros países listados pela Portas Abertas, a organização ressalta que “a maior ameaça vem de militantes islâmicos que buscam eliminar o cristianismo e os cristãos da região”.
O conjunto de dados e relatos indica persistência da violência, com efeitos letais e deslocamentos em massa, além da expansão territorial das atividades de grupos armados.