O papa Leão XIV incentivou integrantes de instituições europeias a adotarem o que definiu como “secularismo saudável” no trato da religião na vida pública. A declaração foi feita na segunda-feira, durante discurso a membros do Grupo de Trabalho sobre Diálogo Intercultural e Inter-religioso, iniciativa vinculada ao Parlamento Europeu.
“Promover o diálogo entre culturas e religiões é um objetivo fundamental para um político cristão, e graças a Deus não faltam pessoas que deram um bom testemunho a esse respeito”, afirmou. Ao abordar o diálogo inter-religioso, o pontífice destacou a centralidade da pessoa: “sempre colocar a pessoa humana, a dignidade humana e nossa natureza relacional e comunitária no centro”.
Leão XIV acrescentou que a participação nesse diálogo reconhece o valor da religião no âmbito pessoal e social, lembrando que a própria palavra “religião” “se refere à noção de conexão como um elemento original da humanidade”. Segundo ele, “as instituições europeias precisam de pessoas que saibam viver um secularismo saudável”, entendido como “um estilo de pensamento e ação que afirma o valor da religião, preservando a distinção — não a separação ou confusão — da esfera política”.
Como referência prática, citou Alcide De Gasperi, ex-primeiro-ministro da Itália e líder do Partido Democrata Cristão até sua morte em 1954, de acordo com o The Christian Post.
O papa observou que a ideia de “secularismo saudável” já havia sido defendida por Bento XVI. Em dezembro de 2006, em encontro promovido pela União dos Juristas Católicos Italianos, Bento XVI falou em “secularidade saudável”, que “reconhece o lugar que é devido a Deus e sua lei moral, a Cristo e sua Igreja na vida humana”, ao mesmo tempo em que “afirma e respeita a ‘autonomia legítima dos assuntos terrenos’”.
Na ocasião, esclareceu que isso “implica que o Estado não considera a religião meramente como um sentimento individual que pode ser confinado apenas à esfera privada”. E completou: “Ao contrário, como a religião também está organizada em estruturas visíveis, como é o caso da Igreja, ela deve ser reconhecida como uma forma de presença pública da comunidade”.
Para Bento XVI, “isto implica também que a toda denominação religiosa (desde que não se oponha à ordem moral nem constitua ameaça à ordem pública) seja garantido o livre exercício das atividades de culto — espirituais, culturais, educativas e caritativas — da comunidade crente”.
Nascido Robert Prevost, Leão XIV foi eleito papa em maio, tornando-se o primeiro pontífice da história da Igreja Católica proveniente dos Estados Unidos.