A bispa de Londres, Sarah Mullally, foi anunciada como a 106ª Arcebispa de Canterbury, após um processo de seleção conduzido ao longo de vários meses pela Comissão de Nomeações da Coroa. Mullally torna-se a primeira mulher a ocupar o cargo máximo da Igreja da Inglaterra, função que também a torna líder espiritual da Comunhão Anglicana mundial. Desde 2018, ela exercia o episcopado em Londres.
Ao comentar sua nomeação, Mullally declarou: “Ao responder ao chamado de Cristo para este novo ministério, faço-o com o mesmo espírito de serviço a Deus e aos outros que me motivou desde que cheguei à fé, quando era adolescente”. Ela afirmou ainda: “Em cada etapa dessa jornada, ao longo da minha carreira de enfermagem e do ministério cristão, aprendi a ouvir atentamente as pessoas e a gentil inspiração de Deus para buscar unir as pessoas e encontrar esperança e cura”.
A futura arcebispa acrescentou que deseja “encorajar a Igreja a continuar a crescer na confiança no Evangelho, a falar do amor que encontramos em Jesus Cristo e a que ele molde as nossas ações”. Disse também estar “ansiosa para compartilhar esta jornada de fé com milhões de pessoas que servem a Deus e suas comunidades em paróquias por todo o país e em toda a Comunhão Anglicana global”. Sobre a responsabilidade do novo cargo, afirmou: “Sei que é uma responsabilidade enorme, mas a encaro com uma sensação de paz e confiança em Deus para me carregar como Ele sempre fez”.
O Arcebispo de York, Stephen Cottrell, participou do processo de seleção como membro da Comissão de 20 integrantes. O Lord Evans de Weardale, presidente do grupo, destacou a relevância da escolha: “Foi um grande privilégio presidir a Comissão de Nomeações da Coroa, que buscava discernir quem Deus está chamando para liderar a Igreja da Inglaterra e a Comunhão Anglicana como Arcebispo de Canterbury”. Ele acrescentou que o processo “começou com uma consulta pública, que ouviu as vozes de milhares de pessoas expressando suas esperanças por essa nomeação, e continuou até a reunião final da Comissão”.
Evans agradeceu aos participantes e afirmou: “Estarei orando pela bispa Sarah enquanto ela se prepara para assumir este novo ministério nos próximos meses”. A bispa de Dover, Rose Hudson-Wilkin, classificou a escolha como “um momento significativo para a Igreja da Inglaterra, a Comunhão Anglicana Mundial e a Diocese de Canterbury”. Segundo ela, “hoje testemunhamos a história sendo feita, a primeira mulher a ser nomeada para esta função que existe há mais de 1.400 anos”.
Entretanto, a nomeação recebeu críticas de setores conservadores. O arcebispo Laurent Mbanda, presidente do movimento ortodoxo Gafcon, afirmou que Mullally deveria “arrepender-se” de seu apoio às bênçãos para pessoas do mesmo sexo. “Esta nomeação abandona os anglicanos do mundo todo, pois a Igreja da Inglaterra escolheu um líder que dividirá ainda mais uma Comunhão já dividida”, declarou. O Conselho Evangélico da Igreja da Inglaterra também se pronunciou, apelando à nova líder para “manter a fé apostólica e convocar a Igreja da Inglaterra a se comprometer novamente com as doutrinas e formulários históricos que lhe foram confiados”.
O cargo de arcebispo estava vago desde a renúncia de Justin Welby, oficializada em janeiro de 2025, após a publicação do relatório Makin, que o acusou de não ter denunciado às autoridades os abusos cometidos pelo falecido John Smyth. Esta foi a primeira seleção aberta a candidatos de ambos os sexos desde que a Igreja da Inglaterra passou a permitir bispas, em 2014. Entre as outras candidatas destacadas estavam a Bispa de Chelmsford, Guli Francis-Dehqani, e a Bispa de Gloucester, Rachel Treweek.
O Bispo Anthony Poggo, secretário-geral da Comunhão Anglicana, afirmou: “Acolho e elogio a nomeação da Bispa Sarah como a próxima Arcebispa de Canterbury e convido as igrejas da Comunhão Anglicana global a orar por ela enquanto se prepara para assumir este importante ministério”. Poggo acrescentou: “Que Deus lhe conceda sabedoria e discernimento, enquanto ela busca ouvir as igrejas-membro, incentivar o apoio mútuo e promover a unidade”.
A cerimônia de posse está marcada para 25 de março de 2026, na Catedral de Canterbury. Mullally assume a liderança em um momento de tensões internas, principalmente em torno das decisões recentes que permitem bênçãos a casais do mesmo sexo. Essas divergências refletem um amplo debate na Comunhão Anglicana, especialmente entre as províncias do Sul Global, que mantêm uma posição mais conservadora.
Antes de sua ordenação em 2002, Sarah Mullally teve uma carreira na saúde pública, sendo a pessoa mais jovem a ocupar o cargo de Diretora de Enfermagem do governo britânico. Em 2018, tornou-se a primeira mulher nomeada Bispa de Londres. Ela também coordenou o projeto “Viver no Amor e na Fé”, iniciativa da Igreja da Inglaterra voltada à reflexão sobre sexualidade, casamento e identidade de gênero.
O Primeiro-Ministro Sir Keir Starmer comentou a nomeação: “A Igreja da Inglaterra é de profunda importância para este país. Suas igrejas, catedrais, escolas e instituições de caridade fazem parte da estrutura de nossas comunidades. A Arcebispa de Canterbury desempenhará um papel fundamental em nossa vida nacional. Desejo a ela todo o sucesso e estou ansioso para trabalharmos juntos”.