Mais de 30 cristãos foram mortos em uma série de ataques no norte de Moçambique atribuídos ao grupo Estado Islâmico da Província de Moçambique (ISMP). Os incidentes ocorreram no final de setembro em diversas aldeias das províncias de Cabo Delgado e Nampula, onde os agressores incendiaram igrejas e residências.
Segundo o Instituto de Pesquisa de Mídia do Oriente Médio (MEMRI), o grupo divulgou 20 imagens mostrando execuções, tiroteios e incêndios.
O ISMP reivindicou responsabilidade por múltiplos ataques realizados durante a última semana de setembro. Entre eles, a decapitação de dois cristãos em Chiure-Velho, no distrito de Chiure, em 26 de setembro, e o ataque à aldeia de Nacocha em 27 de setembro, que resultou na morte de um cristão e na destruição de duas igrejas. No mesmo dia, os militantes incendiaram outras duas igrejas em Nacussa, também em Chiure.
Em 28 de setembro, combatentes invadiram a cidade de Macomia, matando quatro cristãos e saqueando propriedades, conforme divulgado pelo próprio grupo. No dia seguinte, o ISMP informou ter decapitado um cristão no distrito de Macomia. Em 30 de setembro, o grupo relatou um novo ataque à aldeia de Nakioto, no distrito de Memba, província de Nampula, onde mais de 100 casas e uma igreja foram incendiadas. Na aldeia vizinha de Minhanha, dez casas e outra igreja foram destruídas.
De acordo com o portal Defense Post, moradores locais relataram que homens armados invadiram comunidades por volta das 20h, matando quatro pessoas e sequestrando outras quatro, incluindo uma mulher e suas duas filhas. Outro residente afirmou que um jovem foi executado após se recusar a entregar os pertences do pai.
A Africa Defense Forum informou que a recente escalada da violência levou à intensificação da cooperação militar entre Moçambique e Ruanda. Em 27 de agosto, os ministros da Defesa dos dois países, Cristóvão Artur Chume e Juvenal Marizamunda, assinaram em Kigali um acordo sobre o estatuto das forças, ampliando o destacamento das tropas ruandesas na província de Cabo Delgado.
Segundo o Projeto de Dados de Localização e Eventos de Conflitos Armados (ACLED), o ISMP realizou ataques em seis distritos moçambicanos em setembro, entre Balama e Mocímboa da Praia. Em um ataque raro ocorrido em 7 de setembro em Mocímboa da Praia, militantes teriam percorrido as casas para identificar suas vítimas. Este foi o segundo ataque desse tipo desde setembro de 2021.
Em 12 de setembro, líderes militares de Moçambique e Ruanda se reuniram em Pemba para avaliar as operações conjuntas. As autoridades ruandesas afirmaram que o objetivo foi medir o progresso na estabilização das áreas afetadas e reforçar esforços coordenados para restaurar a paz. O grupo já havia lançado ataques simultâneos em julho, quando cerca de 60 combatentes invadiram os distritos de Ancuabe e Chiure sem resistência significativa.
Um relatório do ACLED, publicado em agosto, descreveu a movimentação do ISMP em Chiure como uma expansão tática, destacando que a campanha de propaganda dos militantes manteve a percepção de força, embora a ONU tenha estimado no início de 2024 que o número de combatentes havia caído de 2.500 para 280.
As forças ruandesas, presentes em Cabo Delgado desde julho de 2021, continuam a apoiar as operações de contra-insurgência moçambicanas. Uma atualização divulgada em agosto pela empresa de análise Grey Dynamics relatou que o grupo extremista tem operado a partir dos distritos centrais de Cabo Delgado, avançando em direção ao sul e enfrentando pouca resistência ao longo da rodovia Macomia–Awasse. O ministro da Defesa moçambicano reconheceu que as operações recentes não conseguiram conter o avanço dos insurgentes.
A intensificação dos ataques provocou o deslocamento de pelo menos 50 mil pessoas do distrito de Chiure nas últimas semanas, segundo dados da ONU. Relatos também apontam sequestros e recrutamento forçado em comunidades isoladas. A organização Médicos Sem Fronteiras suspendeu suas atividades em Mocímboa da Praia e iniciou uma resposta de emergência para atender milhares de deslocados instalados em acampamentos em Chiure.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) informou que mais de 46 mil pessoas foram deslocadas em apenas oito dias no final de julho, sendo cerca de 60% delas crianças. Desde o início da insurgência, em 2017, o conflito no norte de Moçambique já causou a morte de aproximadamente 6.200 pessoas.
Os ataques também interromperam, em 2021, o projeto de gás natural de US$ 20 bilhões da TotalEnergies na região de Palma, após ofensivas que deixaram mais de 800 mortos. A empresa francesa enfrentou uma ação judicial em 2023, movida por subcontratadas e familiares das vítimas.
De acordo com o The Christian Post, as Nações Unidas estimam que mais de 1 milhão de pessoas foram deslocadas desde o início do conflito, em decorrência da violência extremista, da seca prolongada e de desastres climáticos recorrentes no norte do país.