Em sessão do Supremo Tribunal Federal (STF) realizada na última quarta-feira, 15, o ministro Flávio Dino afirmou que a Bíblia Sagrada apresenta uma variedade de modelos de família, supostamente indo além do conceito de “família tradicional”.
A declaração que, no jargão popular, constitui um “malabarismo” de opiniões que tem por objetivo forçar o texto sagrado à respaldar o que não respalda, foi proferida durante o julgamento que analisa a legalidade da inclusão de conteúdos sobre orientação sexual e ideologia de gênero no currículo de escolas públicas.
Em vez de se deter ao cerne da questão debatido pelos conservadores, que é a falsa noção de que os sexos macho e fêmea não seriam definidos pela biologia, mas sim pela forma como alguém se “enxerga” e se “sente” (ideologia de gênero), Dino apelou para exemplos que nada dizem respeito ao tema.
O ministro baseou seu argumento, por exemplo, em personagens bíblicos, citando especificamente os casos de Moisés, que foi uma criança adotada, e de Abraão, que, segundo Dino, “viveu em uma estrutura familiar múltipla”.
Ele também detalhou que a narrativa abraâmica envolve relações com Sara e Agar, além de mencionar um episódio no Egito em que “Sara é compelida a ter uma relação afetiva com o faraó”.
Ao final de sua explanação, o ministro reiterou que a Constituição Federal do Brasil assegura a proteção à diversidade das entidades familiares, novamente focando seu argumento não no conceito de ideologia de gênero (alvo das leis em julgamento), mas em diferentes arranjos afetivos.
“Não existe uma única maneira de se viver e se relacionar amorosamente ou conjugalmente com outras pessoas”, concluiu Flávio Dino.
O alvo correto do debate
Os setores conservadores, compostos por estudiosos, líderes religiosos, parlamentares e movimentos sociais diversos, posicionam-se contrariamente à chamada ideologia de gênero, entendendo-a como uma teoria que desvincula a identidade de gênero do sexo biológico.
Para esses grupos, a distinção binária entre homem e mulher é uma realidade natural e imutável, fundamentada sumariamente em princípios biológicos, sendo as definições de “homem” e “mulher” meras consequências naturais, chanceladas pela cultura, dessa realidade.
Eles argumentam que a adoção de perspectivas de gênero nas políticas públicas, especialmente na educação, introduziria uma confusão desnecessária para crianças e jovens e interferiria no direito das famílias de orientar a formação moral de seus filhos.
Como é possível notar, o debate em questão nada tem a ver com arranjos afetivos entre pessoas heterossexuais, tais como os citados por Dino, o qual também citou casos em que a Bíblia claramente não endossa como práticas aceitas por Deus, estando eles registrados no texto sagrado tão somente por razões de conhecimento histórico. Com informações: G1.