Para o pastor brasileiro Albert Oliveira, a imigração não é apenas uma questão legal, mas também uma questão de consciência. Prestes a deixar os Estados Unidos após mais de uma década de ministério, ele e a família se preparam para retornar ao Brasil, uma decisão que ele descreve como “fazer o que é certo diante de Deus e da lei”.
Oliveira lidera a Primeira Igreja Batista de Gordon, no estado do Texas, a cerca de 112 quilômetros de Fort Worth, e deixará o país quando seu visto R-1, destinado a trabalhadores religiosos, expirar em 9 de novembro.
“Se a lei, como está atualmente, não oferece justiça àqueles que fizeram o que ela exige, cabe à consciência daqueles que estão no poder fazer o que é certo”, declarou o pastor em entrevista ao The Christian Post na última segunda-feira, 20 de outubro.
Ele afirmou confiar na soberania divina sobre o processo. “Deus está no controle e Sua vontade é perfeita. Confiamos que Ele usará nossas vidas para tocar os corações daqueles que estão no poder e fazer a diferença nesta questão”, acrescentou.
Trajetória nos EUA
Oliveira chegou aos Estados Unidos em 2011, com um visto de estudante F-1, para cursar Missões Interculturais e Psicologia, e mais tarde obteve um mestrado em Missiologia pelo Seminário Teológico Batista do Sudoeste (SWBTS). Antes disso, atuava no Brasil como intérprete de missionários, e foi por meio do apoio de uma dessas famílias que conseguiu ingressar nos estudos teológicos nos EUA.
Durante o período no seminário, passou a trabalhar na Primeira Igreja Batista de Gordon como ministro estudantil, ajudando a liderar a congregação durante os lockdowns da pandemia de COVID-19, em 2020. Pouco depois, foi nomeado pastor titular da igreja.
“Deus tem sido generoso em me permitir participar dos batismos que acontecem todos os meses e ver pessoas se converterem a Cristo. Nossa igreja agora tem parcerias ministeriais em Honduras, Brasil e Nova York”, afirmou. “Muitas vidas foram transformadas por meio do ministério que Deus estabeleceu nesta igreja.”
Apesar dos desafios de pastorear uma comunidade em uma cidade de cerca de 500 habitantes, Oliveira destacou o crescimento inesperado da congregação. “Nossa igreja chegou a considerar fechar as portas devido à baixa frequência, mas agora precisamos estudar a possibilidade de expandir o santuário”, contou. “O ministério aqui tem sido uma aventura alegre.”
Decisão de saída
Com o visto R-1 prestes a expirar, Oliveira e sua esposa — cujo visto R-2 também vencerá — decidiram retornar voluntariamente ao Brasil para evitar o status de indocumentados. Ele havia solicitado um visto EB-4, que abriria caminho para o green card, mas o aumento no número de pedidos sobrecarregou o sistema de imigração, reduzindo as chances de aprovação a tempo.
“Chegamos dentro da lei, ficamos dentro da lei e sairemos dentro da lei”, resumiu o pastor. Ele afirmou que passará os primeiros meses no Brasil, e depois seguirá para a Alemanha, de onde continuará pastoreando a igreja remotamente, pregando por transmissões ao vivo e participando de reuniões virtuais.
Contexto nos EUA
Segundo dados do Departamento de Segurança Interna, cerca de 2 milhões de imigrantes ilegais deixaram os Estados Unidos voluntariamente ou foram deportados desde o início da atual gestão. Desses, aproximadamente 1,6 milhão optaram pela autodeportação voluntária, e 400 mil foram removidos pelas autoridades.
Estudos recentes indicam que a maioria dos imigrantes em situação irregular é formada por cristãos. Um levantamento da organização World Relief, publicado em abril, apontou que quatro em cada cinco pessoas em risco de deportação se identificam com a fé cristã, evidenciando o impacto da política migratória sobre comunidades religiosas em todo o país.
Para o pastor Oliveira, no entanto, a decisão de retornar não representa o fim do chamado ministerial. “Confiamos que Deus continuará a agir — aqui, no Brasil e onde quer que Ele nos envie”, declarou.