Durante o auge da pandemia de COVID-19, transmissões online tornaram-se parte essencial da vida de igrejas em todo o mundo. Congregações que nunca haviam realizado cultos digitais passaram a alcançar fiéis em outros estados e países.
Para muitas comunidades, essa adaptação foi uma forma de sobrevivência. Quatro anos depois, porém, o modelo virtual dá sinais de desgaste e levanta questionamentos sobre o futuro da vida comunitária nas igrejas.
Quando o fechamento de templos se tornou obrigatório, pastores recorreram a câmeras, plataformas de vídeo e ao Zoom para manter o contato com os fiéis. O fundador e CEO da Church Answers, Thom S. Rainer, recordou que, naquele período, muitos líderes celebravam recordes de visualizações — centenas ou milhares por culto — e acreditavam que o formato online representava uma nova era para a igreja. Entretanto, o entusiasmo inicial diminuiu.
De acordo com dados do Barna Group, 40% dos cristãos afirmam que provavelmente não participariam se os cultos permanecessem apenas online, e cerca de 22% relatam que não assistiram a nenhum culto, seja presencial ou digital, durante a pandemia. Rainer observa que a frequência diminuiu, o engajamento enfraqueceu e muitos fiéis “simplesmente se cansaram da igreja digital”.
Culto presencial
Assistir a um culto em casa, ainda que com bom conteúdo, é diferente de reunir-se fisicamente com outras pessoas. “Uma transmissão ao vivo entrega conteúdo, um sermão, uma música, uma oração. Mas o culto nunca foi concebido apenas para transferência de informações. O culto é vivenciado”, afirmou Rainer.
Essa vivência envolve pertencimento, convivência e presença. O espaço físico favorece atenção, comunhão e participação em rituais que não podem ser reproduzidos pelo ambiente doméstico. Um dos principais desafios do modelo digital, segundo Rainer, é a distração. “O espectador médio on-line raramente mantém atenção total e ininterrupta por mais de alguns minutos”, observou. Campainhas, telefonemas, redes sociais e tarefas cotidianas tornam o foco ainda mais difícil.
Muitos participantes não consideram o acompanhamento virtual como verdadeira presença no culto. Quando o encontro se torna mero conteúdo, perde-se o aspecto comunitário da fé — o que se reflete, segundo Rainer, em menor engajamento, doações reduzidas e enfraquecimento do voluntariado.
Conveniência
O formato on-line oferece conveniência para quem está doente, viajando ou em isolamento, mas Rainer alerta para os riscos da dependência excessiva. “O que começa como uma solução de curto prazo pode se tornar um substituto de longo prazo. Quando o culto se reduz à conveniência, o compromisso enfraquece”, disse.
Para ele, quando a igreja passa a ser apenas uma opção entre outras atividades e deixa de ocupar o centro da vida comunitária, perde-se o senso de corpo e de missão. “A igreja digital não vai desaparecer. Mas a prioridade deve permanecer clara: a igreja reunida é essencial”, afirmou o líder, de acordo com informações da revista Comunhão.
Rainer defende que o culto online não deve ser descartado, mas ajustado para complementar, e não substituir, o encontro presencial. Ele sugere manter transmissões para quem não pode comparecer, mas incentivar a presença física como principal expressão de fé e comunhão.
O ambiente virtual pode funcionar como porta de entrada, ferramenta de discipulado e extensão missionária, mas não como substituto da vida congregacional. A comunidade presencial, segundo Rainer, exige investimento em encontros, pequenos grupos e serviço ativo — elementos que fortalecem o compromisso e o crescimento espiritual.
Ao refletir sobre o futuro da adoração cristã, Rainer conclui que cada fiel deve considerar qual forma de culto realmente promove crescimento espiritual, comprometimento e pertencimento, em vez de apenas conforto. O culto online garantiu continuidade em um período de crise, mas, quatro anos depois, o desafio é redescobrir o valor insubstituível do encontro presencial.
			































    	






