Mais seis homens ingressaram com ações judiciais federais na última semana, alegando terem sido abusados sexualmente e vítimas de tráfico humano por Paul Havsgaard, ex-pastor da Harvest Christian Fellowship, enquanto viviam em lares infantis administrados pela igreja na Romênia, hoje desativados.
Com os novos processos, o número de denunciantes sobe para 12. As ações também citam o fundador da megaigreja californiana, Greg Laurie, e o pastor missionário Richard Schutte por suposta negligência, ao não impedirem os abusos e, segundo os autores, acobertarem a situação por cerca de duas décadas.
O escritório McAllister Olivarius, que representa os ex-internos, informou em comunicado divulgado em setembro que pretende apresentar queixas em nome de 23 antigos moradores dos lares.
As últimas petições foram protocoladas nos dias 14, 17 e 18 de novembro, em nome de Aurelian Busca, 37 anos; seu irmão, Alexandru-Cristian Busca, 38; Marian Dragne, 36; Bogdan Ionescu, 35; Alexandru Badaluta, 36; e Florin Cristian Caragea, 32.
O Christian Post informou ter buscado posicionamento da Harvest Christian Fellowship sobre os novos documentos, sem retorno até o momento da publicação. O veículo também não conseguiu contato com Havsgaard.
Em setembro, o mesmo escritório já havia ajuizado ações no Tribunal Distrital dos Estados Unidos para o Distrito Central da Califórnia em nome de Marian Barbu, 33 anos; Mihai-Constantin Petcu, 40; Cristian Aeroaiei, 36; Constantin-Alin Nitu, 36; Razvan-Georghe Nitu, 38; e George-Adrian Vasile, 33.
De acordo com os processos, Laurie enviou Havsgaard, então pastor veterano da Harvest, à Romênia em 1998 para administrar casas de acolhimento patrocinadas pela igreja para jovens em situação de risco, em um país descrito nas ações como um dos centros de tráfico sexual infantil na Europa.
Os autores relatam que muitos viviam nas ruas de Bucareste antes de serem encaminhados aos Abrigos Harvest, atraídos com refeições em redes de fast food e a promessa de um local seguro para dormir. Na prática, afirmam, foram submetidos a abusos físicos e sexuais recorrentes, descritos nas ações como ocorridos em “escala industrial”.
Segundo os relatos, as consequências se estenderam pela vida adulta, com episódios de transtorno de estresse pós-traumático, depressão, dependência química e dificuldades educacionais.
Em nota anterior, um porta-voz da Harvest Christian Fellowship classificou as alegações como “sérias e perturbadoras” e negou que a igreja tenha acobertado conscientemente qualquer abuso. Afirmou ainda que, após ser contatada por representantes dos denunciantes, a Harvest em Riverside encaminhou o caso à polícia e se colocou à disposição para cooperar com eventuais investigações, sustentando também que as ações poderiam representar “uma forma de extorsão financeira” e declarando que a igreja pretende “se defender vigorosamente contra essas alegações” nos tribunais.
O porta-voz não voltou a se manifestar depois dessa primeira declaração. A polícia de Riverside informou que não há investigações em andamento contra Havsgaard e não esclareceu para qual órgão as denúncias teriam sido encaminhadas.
Os líderes da Harvest Christian Fellowship são acusados nos processos de falhas de supervisão sobre o trabalho de Havsgaard, ao mesmo tempo em que a igreja arrecadava doações apresentando os lares como projeto social na Romênia.
Os ex-moradores afirmam que foram aliciados para uma rotina de violência e abusos ao longo de anos e, posteriormente, dispensados e devolvidos às ruas quando as casas foram fechadas de forma discreta em 2008, quatro anos depois de uma investigação interna da Harvest ter confirmado oficialmente parte das denúncias, a partir de alertas de missionários que atuavam no campo.
As acusações contra Havsgaard incluem diferentes formas de contato sexual não consentido, exposição a pornografia e tráfico de adolescentes para terceiros.
Os autores pedem indenização por suposta negligência na supervisão e gestão dos lares, por imposição intencional de sofrimento emocional, tráfico sexual e conspiração, entre outras acusações.
Razvan-Georghe Nitu, um dos denunciantes que ingressou com ação em setembro, afirma ter sido abusado sexualmente por Havsgaard em diversas ocasiões entre 2000 e 2007, dos 13 aos 20 anos de idade.
Os processos também alegam que Laurie e Schutte mantiveram Havsgaard em atividade na Romênia, com supervisão limitada, apesar de sucessivos alertas sobre abusos contra crianças. Segundo os documentos, a Harvest depositava mensalmente cerca de US$ 17 mil na conta pessoal de Havsgaard para custear as despesas dos lares, sem exigir prestação de contas detalhada. As ações afirmam que parte desses recursos teria sido desviada para beneficiar vítimas favoritas e para pagamento de subornos.
Havsgaard voltava com frequência à Harvest Christian Fellowship, na Califórnia, para levantar fundos para o trabalho na Romênia. Os denunciantes afirmam que alguns abusos teriam continuado durante essas viagens.
De acordo com os processos, missionários norte-americanos que atuavam em lares romenos e ouviram relatos de abusos entraram em contato com a Harvest em 2004 e pressionaram Schutte a enviar uma equipe de inspeção. Quando Schutte se juntou ao grupo em Bucareste, um ministro da Calvary que trabalhava no país teria dito que Havsgaard era um abusador de crianças e deveria deixar a Romênia imediatamente, por ser “uma vergonha para missionários e obreiros cristãos”.
Os documentos afirmam que lideranças da Harvest, na Califórnia, teriam indicado à equipe que Havsgaard era considerado essencial para a captação de recursos e, por isso, não seria afastado naquele momento. Ele permaneceu no posto por mais quatro anos, período em que o financiamento foi reduzido gradualmente até o fechamento das casas em 2008, quando retornou aos Estados Unidos.
As ações sustentam que, durante esse intervalo, os abusos continuaram e que, ao final de seu período de atuação, Havsgaard recebeu cerca de US$ 200 mil em pagamentos, de acordo com o informado pelo portal The Christian Post.
Os documentos também registram que, em 2009, Laurie apresentou publicamente Havsgaard como “um pastor que serviu fielmente ao Senhor por muitos anos na Harvest Christian Fellowship, a igreja onde eu pastoreio” e comparou seu trabalho na Romênia à liderança de Moisés sobre os israelitas, afirmando que sua vida “demonstra o poder que apenas uma pessoa piedosa pode ter”.









































