O número de personagens que se identificam como transgêneros em séries de TV aumentou na temporada analisada entre domingo, 01 de junho de 2024, e sábado, 31 de maio de 2025, mas a maioria desses personagens está ligada a produções que não devem retornar com novos episódios, segundo o relatório Where We Are on TV 2025, da Aliança Gay e Lésbica Contra a Difamação (GLAAD).
O levantamento considerou séries originais roteirizadas exibidas em horário nobre na TV aberta, na TV a cabo e em serviços de streaming que estrearam uma nova temporada no período. A GLAAD contabilizou 489 personagens que se identificavam como LGBT, frente a 468 na temporada anterior, um aumento de 4%. Dentro desse total, 33 personagens foram descritos como transgêneros, nove a mais do que no ano anterior, variação apresentada como 1,6% no relatório.
O documento também registrou que 24 desses 33 personagens foram retratados como homens biológicos que se identificam como mulheres.
Apesar do aumento, o mesmo relatório apontou que 61% desses personagens não devem retornar na próxima temporada por motivos como cancelamentos, encerramento de séries ou formato de minissérie. Outros nove personagens transgêneros aparecem em produções que, até o período considerado, não haviam sido oficialmente renovadas.
Ao citar séries que encerraram sua trajetória, a GLAAD mencionou Clean Slate, Heartstopper, The Umbrella Academy e 9-1-1: Lone Star. No texto do relatório, a organização afirmou que esses personagens “se conectaram com o público” e ofereceram “uma narrativa alternativa à retórica transfóbica desenfreada em redações e escritórios governamentais”, ao mesmo tempo em que destacou que as produções exibiram sua temporada final.
O tipo de plataforma também apareceu como um fator associado à presença de personagens LGBT. A GLAAD registrou que o streaming foi a única plataforma com aumento anual no número de personagens LGBT, enquanto TV aberta e cabo seguiram tendência de queda acompanhada da redução de audiência.
A organização também tratou da chamada programação infantil e familiar e citou a Netflix como exemplo de serviço com títulos voltados ao público jovem que incluem personagens LGBT. O relatório mencionou Heartstopper, descrita como uma série sobre dois meninos cujo relacionamento se desenvolve ao longo da história, com presença de personagens transgêneros, lésbicas e não binários. A GLAAD também citou O Príncipe Dragão como uma produção com “diversos personagens LGBTQIA+”.
A presidente e CEO da GLAAD, Sarah Kate Ellis, declarou que a entidade tem procurado influenciar decisões na indústria do entretenimento para manter personagens LGBT em novas produções. Em comunicado, ela afirmou: “Neste momento em que histórias diversas estão sob maior escrutínio, a GLAAD está se unindo a líderes da indústria do entretenimento para atender a um apelo claro: Não cedam à pressão para reduzir a representação [LGBT]”. Ellis acrescentou: “A liberdade de expressão inclui a liberdade de contar histórias, e isso inclui histórias da nossa comunidade”.
Nos últimos anos, Ellis e a GLAAD também defenderam maior presença de conteúdo LGBT em produções infantis e apresentaram como objetivo que 20% dos personagens de televisão fossem LGBT até 2025.
Em direção oposta, organizações cristãs conservadoras têm orientado famílias a evitar conteúdos que promovam estilos de vida LGBT. No início deste mês, o grupo Concerned Women for America (CWA) divulgou um relatório que atribuiu à Netflix a promoção “generalizada” de temas e histórias LGBT em 326 programas.
A presidente e CEO da CWA, Penny Nance, declarou: “A agenda anti-criança e anti-família da Netflix foi finalmente exposta — sua programação infantil foi infiltrada por preocupações adultas com preferências sexuais e identidade de gênero”. Ela acrescentou: “Nosso novo relatório revela que a programação infantil não está isenta de políticas identitárias — uma mudança drástica em relação ao seu papel histórico”.
Na sequência, Penny afirmou: “Sabíamos que a Netflix exibia esse tipo de programação, mas nosso estudo quantifica quantos programas infantis são subvertidos por mensagens e temas LGBTQ+. São números chocantes, e a maioria dos pais não tem conhecimento disso”.
No setor de animação, a Disney confirmou no ano passado que cortou “algumas falas” da série Ganhar ou Perder, da Pixar, em trechos ligados à identidade transgênero de uma personagem. A série estreou em janeiro e se passa em torno de um time de softball do ensino fundamental na semana que antecede um jogo de campeonato, com episódios narrados a partir de diferentes pontos de vista.
Um porta-voz da Disney disse ao The Hollywood Reporter que, ao escolher conteúdos para públicos mais jovens, a empresa reconhece que “muitos pais preferem discutir certos assuntos com seus filhos em seus próprios termos e no seu próprio tempo”. Meses depois, Ganhar ou Perder exibiu um episódio em que uma garota cristã aparece orando.
O debate ocorre em um contexto de críticas de segmentos cristãos conservadores e de lideranças republicanas na Flórida à posição pública da Disney em temas relacionados à comunidade LGBT. A empresa se opôs ao projeto de lei dos Direitos dos Pais na Educação, aprovado na Flórida em 2022, que restringiu discussões sobre orientação sexual e identidade de gênero em escolas públicas da pré-escola ao 3º ano do ensino fundamental.
Em 2023, o Conselho de Educação da Flórida ampliou diretrizes relacionadas à norma para do 4º ao 12º ano, com exceções previstas quando o conteúdo é exigido por padrões acadêmicos estaduais ou integrado a cursos de saúde reprodutiva com possibilidade de recusa pelos pais.
Em relatório encaminhado à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) em 2023, a Disney afirmou que “a percepção dos consumidores sobre nossa posição em questões de interesse público, incluindo nossos esforços para atingir algumas de nossas metas ambientais e sociais, muitas vezes diverge bastante e representa riscos para nossa reputação e marcas”.
Ao comentar esse cenário, o professor de Direito Jonathan Turley, chamou-a de um exemplo da “mão invisível” do mercado, teorizada pelo economista Adam Smith em ação: “A questão é o equilíbrio e a intensidade da agenda política e social”, escreveu Turley para o The Hill. “Os produtos da Disney agora são vistos por muitos conservadores como mera demonstração de virtude e tentativas intermináveis de doutrinar crianças. Além disso, quando a empresa declara publicamente sua oposição a um projeto de lei popular sobre direitos dos pais na Flórida, ela está deixando de lado o foco comercial e adotando uma postura política”.
O número de personagens de TV que se identificam como transgêneros aumentou ligeiramente em 2025, mas a maioria pode não retornar na próxima temporada, segundo dados de um relatório reportado pelo The Christian Post.







































