O Ministério Público Federal (MPF) instaurou um inquérito civil para apurar possível discriminação religiosa na programação do Réveillon do Rio de Janeiro, organizado pela Prefeitura. A investigação tem como foco as atrações previstas para a Praia do Leme, na Zona Sul da capital fluminense, após reclamações de que a agenda estaria concentrada em apresentações voltadas ao público gospel, em detrimento de outras expressões religiosas.
O procedimento é conduzido pelo procurador da República Jaime Mitropoulos, que decidiu converter um procedimento preparatório em inquérito civil. O MPF solicitou esclarecimentos formais ao município sobre os critérios utilizados para a escolha dos artistas, bem como sobre a aplicação de recursos públicos nos eventos de fim de ano.
Críticas e repercussão pública
O caso ganhou visibilidade após declarações do babalawô Ivanir dos Santos, que criticou o que considera tratamento desigual entre diferentes tradições religiosas nas celebrações da virada do ano. Em entrevista à coluna de Ancelmo Gois, do jornal O Globo, ele defendeu a necessidade de uma representação mais equilibrada das crenças religiosas no uso de espaços públicos durante grandes eventos.
A manifestação provocou reação do prefeito Eduardo Paes (PSD), que utilizou as redes sociais para rebater as críticas. Segundo ele, a inclusão de atrações gospel não compromete o caráter plural do Réveillon carioca e as reclamações teriam motivação preconceituosa.
“É impressionante o nível de preconceito dessa gente. O Réveillon da praia de Copacabana é de todos! A música gospel também pode ter seu lugar. Assim como o samba, o rock, o piseiro, o frevo, a música baiana, a MPB, a bossa nova… Cada um que fique no ritmo que mais curte! O povo cristão também tem direito a celebrar! Amém! Axé! Shalom! Namaste!”, escreveu o prefeito.
Reação de lideranças religiosas
O debate também contou com a participação do pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (Advec). Em publicação nas redes sociais, ele criticou as reclamações e afirmou que manifestações religiosas de matriz africana historicamente ocupam espaços públicos durante a virada do ano.
“Você está reclamando de um palco gospel na virada do ano na Praia de Copacabana. Vou refrescar sua memória. Toda a orla, não só de Copacabana, mas de todas as praias, são tomadas para oferendas de cultos de matriz africana. Nos palcos principais, cantores vinculados a essas religiões têm o protagonismo. Você está mostrando o seu preconceito religioso”, afirmou.
Prazo para esclarecimentos
O MPF estabeleceu o prazo até 21 de janeiro de 2026 para que a Prefeitura do Rio de Janeiro apresente informações detalhadas sobre a programação do Réveillon e os critérios adotados. A data coincide com o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa.
O inquérito busca avaliar se houve violação ao princípio da laicidade do Estado ou discriminação religiosa no uso de recursos públicos e na ocupação dos espaços destinados às festividades de fim de ano.
Folha Gospel









































