Nesta semana, o magnata Elon Musk revelou que uma de suas empresas, a Neuralink, realizou com sucesso a implantação do primeiro chip no cérebro humano. Este avanço tecnológico foi descrito como uma inovação revolucionária, permitindo a conexão sem fio entre a mente humana e os computadores.
O programa Fantástico deste domingo (4) consultou especialistas para determinar se esse chip possibilitará a integração efetiva entre o cérebro e as máquinas, ou se é apenas mais uma estratégia de marketing de Musk. De acordo com a Neuralink, o paciente que recebeu o implante cerebral passa bem um dia após a operação. O chip utilizado é o mesmo implantado em um macaco quase três anos atrás, o qual foi mostrado em um vídeo da empresa jogando um jogo apenas com o pensamento.
Funcionamento do Chip
O chip em si, que contém o processador, possui o tamanho de uma moeda de R$1 e é implantado na parede interna do crânio por um neurocirurgião.
O que realmente entra no cérebro são 64 filamentos, mais finos que um fio de cabelo, bastante flexíveis, cada um com 16 eletrodos. Os filamentos são inseridos no cérebro por um robô-cirurgião da Neuralink.
Esses filamentos capturam os sinais do cérebro em uma quantidade dez vezes maior do que os dispositivos utilizados até o momento, e enviam tudo para o chip.
“Ele (o chip) vai ler a informação que circula no cérebro e tentará decodificar essa informação, transformando-a em alguma aplicação”, explica Garcia Rosa, pesquisador da USP.
No entanto, ainda não está claro qual seria a aplicação exata desse chip cerebral nos projetos da Neuralink. Isso porque a empresa só divulga o que seu proprietário, Elon Musk, compartilha no X (antigo Twitter), rede social que também lhe pertence.
Dessa forma, seria viável converter um pensamento, presente no cérebro, em uma ação concreta, como movimentar um braço mecânico, um exoesqueleto, jogar videogame ou se comunicar de alguma maneira.
Apesar de todos os segredos envolvendo a Neuralink, especialistas deduzem que o implante do chip em seres humanos deve estar relacionado à área cerebral que controla os movimentos, dada a natureza dos voluntários procurados pela empresa: pessoas que ficaram tetraplégicas devido a lesões na coluna ou que sofrem de esclerose lateral amiotrófica, uma doença degenerativa.
Pesquisadores têm opiniões divergentes sobre o chip
Os especialistas consultados pelo Fantástico ficaram surpresos com a inserção do chip em um ser humano e expressaram opiniões divergentes sobre os benefícios do chip e a possibilidade de sucesso do dispositivo ao operar dentro do cérebro humano. A doutora Giselle está otimista em relação à inovação, porém ressalta que ainda é prematuro determinar se o chip será eficaz em seres humanos.
“A cirurgia aconteceu nesta semana, então tem toda uma análise a ser feita de pós-operatório, de possíveis complicações que possam acontecer, relacionadas ou não ao procedimento (…) sou muito otimista com a inovação tecnológica nesse sentido, especialmente para restabelecer a independência de pacientes que são neurologicamente comprometidos, ou pós-trauma ou pós-doenças degenerativas”, diz Giselle.
O pesquisador brasileiro Miguel Nicolelis, pioneiro no estudo da interação do cérebro com as máquinas, ele vê com ceticismo os anúncios de Elon Musk. Nicolelis é professor emérito da Universidade Duke, nos Estados Unidos, e já tinha colocado um macaquinho para jogar videogame com o cérebro no início deste século.
“(O chip cerebral de Elon Musk) vai fazer as pessoas conversarem com o computador? Download do cérebro, upload, isso tudo é absurdo. Isso tudo não tem a menor base científica e eu acredito que nunca vai acontecer (…) primeiro que a gente nem sabe o que está acontecendo, só o tweet do Elon Musk não tem absolutamente significado algum para a comunidade científica”, afirma Nicolelis.
O pesquisador da USP Garcia Rosa se mostrou esperançoso com a implantação do chip, que teve aprovação do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (FDA, em inglês).
“Eu acho que eles (Neuralink) são bastante atenciosos em relação a isso, da saúde do ser humano, então a gente tem esperança que seja bom para a humanidade. Acho que (chips no cérebro) é caminho meio sem volta, né?”, diz Garcia Rosa.
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