Em declaração proferida em Roma, o arcebispo Jacques Mourad, líder da Igreja Católica Siríaca para as regiões de Homs, Hama e Nabek, advertiu sobre o acelerado declínio da presença cristã na Síria.
Segundo relatos da fundação Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), o prelado descreveu a situação eclesiástica como “morrendo” e solicitou ação internacional imediata para conter o colapso.
Dados do relatório “Liberdade Religiosa no Mundo 2025”, divulgado pela ACN no mês passado, indicam redução drástica na população cristã síria: de aproximadamente 2,1 milhões em 2011 para cerca de 540.000 em 2024.
O arcebispo atribuiu esse êxodo na Síria à “situação política e econômica desastrosa” do país, que tem motivado dezenas de milhares a buscarem refúgio externo.
“Nenhum dos esforços da Igreja universal ou da Igreja local conseguiu estancar a onda do êxodo”, afirmou Mourad. “As causas não estão relacionadas à Igreja, mas sim à desastrosa situação política e econômica do país.”
O religioso, que permaneceu sequestrado por combatentes do Estado Islâmico por cinco meses em 2015 antes de conseguir escapar, enfatizou que apenas reformas políticas e garantias de segurança poderiam reverter a atual tendência migratória.
Em sua análise, o arcebispo comparou a deterioração das condições na Síria à realidade afegã e manifestou ceticismo quanto a melhorias nas liberdades religiosas sob a administração do presidente Ahmed al-Sharaa.
Demonstrou ainda preocupação com possíveis negociações de paz envolvendo as Colinas de Golã, alertando que qualquer transferência de controle ameaçaria o abastecimento hídrico de Damasco e caracterizou tal cenário como potencial ato de “escravização”.
O lançamento do relatório da ACN incluiu uma petição pela proteção do Artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que assegura a liberdade religiosa. O documento exorta governos a prestarem apoio a comunidades ameaçadas e garantirem acesso a assistência jurídica e emergencial para vítimas de perseguição.
Desde a queda do regime de Bashar al-Assad em dezembro de 2024, registra-se intensificação da violência contra minorias religiosas, incluindo cristãos, drusos e alauítas.
O Dr. Morhaf Ibrahim, presidente da Associação Alauíta dos EUA, classificou esses episódios como parte de uma “campanha de terror deliberada”, atribuindo a autoria a jihadistas estrangeiros, lealistas de Assad e milícias vinculadas ao governo interino.
Richard Ghazal, diretor executivo da organização Em Defesa dos Cristãos, alertou que a Síria está perdendo não apenas sua diversidade religiosa histórica, mas também uma “força moderadora” que possibilitava a coexistência entre diferentes grupos.
Ghazal também solicita que os Estados Unidos pressionem a liderança interina síria a adotar salvaguardas constitucionais para minorias e substitua o atual sistema de milícias por forças de segurança profissionais.
O atentado suicida de 22 de junho na Igreja de Santo Elias, em Damasco, que resultou em mais de vinte mortos durante orações dominicais, ilustra a gravidade da situação, segundo o The Christian Post.
Ghazal descreveu o episódio como reflexo de uma “realidade preocupante” que ameaça apagar dois milênios de patrimônio espiritual e cultural, incluindo locais históricos como Antioquia – onde os seguidores de Jesus foram inicialmente chamados de cristãos – e a estrada para Damasco, associada à conversão do apóstolo Paulo.









































