O veredito no caso do cristão maltês Matthew Grech, processado por relatar publicamente sua experiência de ter deixado a homossexualidade, foi adiado pela segunda vez no dia 06 de novembro.
O julgamento, que se arrasta desde 2022, voltou a ser postergado sem explicação prévia — um novo e-mail enviado ao advogado do réu informou o adiamento de última hora, segundo a organização Christian Concern, sediada em Londres.
Matthew Grech, de 36 anos, enfrenta possíveis multas de até € 5.000 (cerca de US$ 5.700) e pena de até cinco meses de prisão, acusado de violar o Artigo 3 da Lei de Afirmação da Orientação Sexual, Identidade de Gênero e Expressão de Gênero de Malta. A norma, aprovada em 2016, foi a primeira da Europa a proibir qualquer forma de “anúncio ou promoção de práticas de conversão”, tornando crime discussões ou conselhos sobre mudança de orientação sexual.
As acusações surgiram após uma entrevista concedida por Grech em abril de 2022 ao portal independente PMnews Malta, na qual ele compartilhou sua história pessoal e suas opiniões sobre a proibição das terapias de conversão. Segundo a Christian Concern, o depoimento foi interpretado pelas autoridades como uma suposta forma de “promoção” dessas práticas, embora o acusado não tenha incentivado ninguém a buscar tratamento, limitando-se a expressar sua perspectiva de fé.
Depoimento e repercussão
Na entrevista, Grech relatou que, durante a infância e adolescência, enfrentou dificuldades em se relacionar com outros meninos, o que, segundo ele, resultou em sentimentos confusos mais tarde. O maltês mencionou que algumas formas de “terapia da fala” — baseadas em apoio psicológico e não coercitivo — poderiam ajudar pessoas que vivenciam “atração pelo mesmo sexo ou confusão de gênero”, mas destacou que essas abordagens não deveriam ser criminalizadas.
Após sua conversão ao cristianismo, Grech afirmou ter passado a compreender a homossexualidade não como identidade, mas como comportamento do qual escolheu se afastar. “Assim como qualquer outro pecado, é possível se arrepender, pedir perdão a Deus e pedir-Lhe forças para superar”, declarou na ocasião.
Logo depois da publicação, Grech e os dois jornalistas que conduziram a entrevista foram indiciados sob a lei maltesa que proíbe a divulgação de qualquer forma de “terapia de conversão”.
Os denunciantes
A denúncia foi apresentada por Silvan Agius, ativista LGBT que participou da redação da própria lei e atua desde 2019 como assessor no gabinete da Comissária Europeia para a Igualdade, Helena Dalli. Também figuram como denunciantes Christian Attard, membro fundador do Movimento pelos Direitos LGBTQIA+ de Malta, e Cynthia Chircop, copresidente da mesma organização.
A legislação maltesa, considerada modelo para propostas semelhantes em outros países europeus, tem sido criticada por grupos de defesa da liberdade religiosa, que alegam que a norma restringe testemunhos de fé e experiências pessoais.
Reação
Em mensagem divulgada pela Christian Legal Centre (CLC) após o novo adiamento, Grech expressou decepção com a demora no julgamento, mas reafirmou sua confiança em Deus: “Jesus disse: ‘Alegrem-se quando forem perseguidos por causa do meu nome’, então eu permaneço alegre”, declarou. “Não me surpreendo quando as provações chegam, porque fomos avisados de que elas viriam. Então, sinto paz”.
Grech também agradeceu o apoio recebido de cristãos de vários países e afirmou que enxerga o processo como parte de uma missão maior: “Sinto-me muito apoiado pela minha família cristã em todo o mundo, mas também carrego um senso de responsabilidade. Acredito que estamos fazendo um ótimo trabalho ao defender Cristo neste momento”, afirmou.
O caso, que ganhou repercussão internacional, reacendeu o debate sobre liberdade de expressão, fé e legislação de gênero na Europa. Ainda não há nova data definida para a leitura do veredito, de acordo com informações do portal The Christian Post.







































