A Igreja Luterana de Hamburgo-Lohbrügge, na Alemanha, adotou uma estratégia incomum para combater a queda no número de fiéis: cultos temáticos inspirados na saga Harry Potter, de J.K. Rowling.
A iniciativa ocorre em um contexto em que aproximadamente 900 mil alemães deixaram congregações religiosas em 2022, segundo dados do jornal Deutsche Welle, incluindo católicos e protestantes.
Nos encontros, realizados no templo decorado como o Grande Salão de Hogwarts — com velas, elementos sombrios e participantes fantasiados de personagens da série —, o pastor Jonas Goebel integra narrativas da ficção com pregações cristãs.
Durante um culto, Goebel comparou o feitiço Expecto Patronum, usado na saga para repelir criaturas que sugam a felicidade, ao poder da oração. “Quando não sei mais o que fazer, quando estou para baixo, oro: ‘Deus, eu preciso de você’. Em essência, é semelhante a lançar um ‘Expecto Patronum’”, declarou.
A programação inclui músicas da trilha sonora dos filmes tocadas no órgão da igreja, leituras de trechos dos livros e demonstrações de ilusionismo, como um livro em chamas que não queima. “
Escolhemos Harry Potter porque é fácil conectar essas histórias com o que transmitimos do ponto de vista bíblico”, explicou Goebel, que defende a busca por “novos formatos” para tornar os cultos mais atraentes. “Espero que as pessoas voltem para casa e digam: ‘Nossa, foi legal na igreja!’”, acrescentou.
Críticas
Um vídeo dos cultos, compartilhado no Instagram, gerou debates entre usuários. Enquanto alguns apoiaram a criatividade, outros criticaram a fusão entre elementos da bruxaria e a fé cristã.
“Gosto de Harry Potter, mas jamais misturaria o santo com o profano”, escreveu um internauta. Outro comentário destacou: “Santo e profano não se misturam. O Evangelho nunca precisou de muletas; é necessária a pregação pura”.
Uma usuária questionou a conexão entre a série e a Bíblia: “O enfraquecimento das igrejas hoje vem do distanciamento da fé genuína”, argumentou. Goebel, porém, rebateu as críticas ao afirmar que o objetivo é “criar pontes” com quem se sente distante dos formatos tradicionais. “Muitos querem ir a cultos, mas não encontram ocasiões especiais”, justificou.
A iniciativa da congregação de Hamburgo-Lohbrügge reflete um debate mais amplo sobre a renovação de práticas religiosas em meio a secularização crescente na Europa. Dados oficiais indicam que, em 2022, a Igreja Evangélica na Alemanha (EKD) perdeu 2,9% de seus membros, enquanto a Igreja Católica registrou queda de 2,1%.
