Cristãos em Bangladesh vivem um clima crescente de apreensão após uma série de ataques contra instituições católicas, sendo o mais recente um ataque com bomba caseira à Catedral de Santa Maria e à Escola São José, ambas administradas pela Igreja Católica em Daca, capital do país.
Segundo a Agência Católica de Notícias (CNA), a Polícia Metropolitana de Daca prendeu um homem de 28 anos suspeito de envolvimento nos atentados registrados entre 8 e 9 de novembro.
O primeiro ataque ocorreu na sexta-feira, por volta das 22h30, quando uma bomba caseira explodiu nas proximidades da Catedral de Santa Maria. Outro artefato, não detonado, foi encontrado no terreno da igreja. No sábado seguinte, uma segunda explosão atingiu o complexo da Escola Secundária e Faculdade de São José, no bairro de Mohammadpur.
A escola, conforme a CNA, está situada perto de residências de diferentes comunidades religiosas e da sede da Conferência Episcopal Católica de Bangladesh. Apesar das explosões, nenhuma pessoa ficou ferida, segundo o jornal The Catholic Herald, que informou que cerca de 500 fiéis compareceram à missa na manhã seguinte.
Pedido de proteção
Em comunicado, o padre Bulbul Rebeiro, secretário de comunicação social da Conferência Episcopal Católica de Bangladesh (CBCB), afirmou que os ataques geraram medo na comunidade católica.
“O lançamento de coquetéis molotov contra a igreja novamente em um mês preocupou nossa comunidade. Solicitaremos às autoridades que apurem rapidamente a motivação e levem os responsáveis à justiça”, declarou.
Durante uma coletiva de imprensa em 8 de novembro, Rebeiro pediu ao governo garantias para a segurança dos cristãos durante as atividades religiosas: “Nós, cristãos, somos muito poucos e pacíficos. Mas esses incidentes estão nos assustando”, disse, de acordo com o The Christian Post.
Motivação política
A polícia informou que o suspeito detido está sendo interrogado sobre outros possíveis ataques e foi identificado como membro da Bangladesh Chhatra League (BCL), braço estudantil da Liga Awami, partido da primeira-ministra Sheikh Hasina. O grupo foi proibido por envolvimento em atos violentos e protestos durante o atual governo.
De acordo com a Portas Abertas, Bangladesh ocupa o 24º lugar em sua Lista Mundial da Perseguição 2024, que classifica os países onde os cristãos enfrentam maior hostilidade. A organização afirma que os protestos de agosto de 2024 criaram um ambiente propício para ataques de grupos radicais.
Cristãos convertidos de outras religiões, como islamismo, hinduísmo e budismo, são os mais vulneráveis. Homens relatam espancamentos e tortura, enquanto mulheres enfrentam agressões sexuais, casamentos forçados ou divórcios impostos. Igrejas tradicionais, como a Igreja Católica Romana, também são alvos de ameaças e vandalismo.
Histórico de ataques
Segundo a CNA, os atentados da segunda semana de novembro ocorreram apenas um mês após o ataque de 8 de outubro contra a Igreja Católica do Santo Rosário, a mais antiga do país. Na ocasião, uma bomba foi lançada e explodiu no portão do templo, sem causar vítimas.
Até o momento, nenhum grupo reivindicou a autoria dos ataques. A Associação Cristã de Bangladesh acredita que a sincronia dos atentados indica uma possível ação coordenada.
Enquanto isso, as autoridades reforçaram a segurança em igrejas e instituições religiosas da capital e mobilizaram o Batalhão de Ação Rápida em busca de outros suspeitos. A comunidade cristã local, que representa menos de 1% da população de Bangladesh, teme novos episódios de violência, em meio a um cenário de tensão política e intolerância religiosa crescente.







































