Uma facção radical ligada ao povo fulani, descrita por defensores como “determinada a transformar a Nigéria em um califado”, é acusada de sequestrar cristãos e mantê-los acorrentados em campos de reféns, segundo relatos apresentados em uma coletiva de imprensa realizada no Capitólio dos Estados Unidos em 04 de setembro.
Douglas Burton, ex-funcionário do Departamento de Estado dos EUA e editor sênior do projeto Truth Nigeria, ligado à organização Equipping The Persecuted, afirmou que existem campos de reféns em uma floresta próxima da vila de Rijana, no estado de Kaduna.
“Há aproximadamente 500 ou 600 pessoas na floresta agora, e eles mantêm esses campos de reféns lá desde dezembro do ano passado”, declarou Burton. “Milhares de pessoas passaram por esse sistema, e muitas foram mortas.”
De acordo com entrevistas conduzidas pela Truth Nigeria, os sobreviventes relataram que recebiam pouca comida, eram espancados e que reféns eram mortos quando suas famílias não conseguiam pagar resgates.
Testemunho de sobreviventes
Uma das sobreviventes, identificada como Esther, disse que foi sequestrada em junho de 2025, junto com sua filha de 10 meses, na vila de Gaude. Segundo seu relato, foi levada para Rijana, onde testemunhou execuções de reféns cujas famílias não conseguiram pagar. Esther afirmou ainda que, durante o cativeiro, os sequestradores a proibiram de fazer orações cristãs. Ela foi libertada em 27 de agosto.
Acusações contra o governo
Durante a coletiva, Burton acusou o governo nigeriano de não agir diante de relatórios sobre os campos e até de subornar jornalistas locais para silenciar informações.
“As condições são realmente horríveis”, afirmou Burton. “Uma das coisas mais horríveis é que o governo nigeriano não reconheceu os nossos relatórios, não respondeu aos nossos telefonemas, não foi capaz de ajudar a resgatar nenhuma dessas pessoas.”
O governo da Nigéria, por sua vez, afirmou em fevereiro ter resgatado cerca de 50 reféns em Rijana, mas, segundo Burton, essas pessoas não foram disponibilizadas para entrevistas, o que, segundo ele, dificulta confirmar a veracidade da operação.
Judd Saul, diretor executivo da Equipping The Persecuted, declarou: “Os sequestradores são fulani. Eles fazem parte da milícia étnica fulani. Esta é uma tribo muçulmana jihadista que está determinada a transformar a Nigéria em um califado”.
Saul acrescentou que, segundo testemunhas, “há mais de mil cristãos mantidos em cativeiro para resgate. Eles estão sendo torturados, passando fome, sendo espancados, e cristãos estão sendo executados diariamente se os resgates não forem pagos”.
Contexto do conflito
O povo fulani é um dos maiores grupos étnicos nômades da África Ocidental, presente em diversos países do Sahel. Predominantemente muçulmano, é formado por centenas de clãs e linhagens, a maioria sem envolvimento com atividades extremistas. No entanto, analistas afirmam que facções fulani têm aderido a ideologias jihadistas nos últimos anos, contribuindo para a escalada da violência no Cinturão Médio da Nigéria, onde predominam comunidades agrícolas cristãs.
O governo nigeriano, por sua vez, insiste que a violência não tem caráter religioso, mas resulta de conflitos entre agricultores e pastores agravados por fatores econômicos e sociais, de acordo com o The Christian Post.
Reações internacionais
A Comissão dos Estados Unidos sobre Liberdade Religiosa Internacional (USCIRF) alertou que a violência envolvendo grupos fulani está aprofundando tensões religiosas no país. Oradores na coletiva pediram que o Departamento de Estado dos EUA reinsira a Nigéria na lista de Países de Preocupação Especial, da qual foi retirada em 2021.
Entre as soluções propostas, destacaram-se a responsabilização de financiadores de grupos extremistas e maior pressão internacional para que o governo nigeriano proteja comunidades cristãs e muçulmanas atingidas pelos ataques.