No dia 8 de agosto, a TV Globo exibirá, logo após o Globo Repórter, o primeiro episódio do especial Sons de São Paulo – Música Religiosa, que abordará manifestações da fé por meio da música em diferentes tradições religiosas da capital paulista. Entre os destaques está a participação da bispa Sonia Hernandes, líder do Renascer Praise.
Na vinheta promocional veiculada nos intervalos da programação, Sonia afirma: “Quando você está muito próximo da presença de Deus, não tem como não adorar”. A líder evangélica, fundadora da Igreja Renascer em Cristo, ao lado do marido, Estevam Hernandes, também é conhecida por apresentar programas na Rede Gospel, emissora de sua propriedade.
A presença da bispa no especial da Globo chamou atenção por ocorrer em meio a um histórico de tensão entre a emissora e setores do meio evangélico.
O episódio mostrará também outras vertentes da música religiosa em São Paulo, como as canções católicas populares entoadas nas missas e os ritmos de origem afro-brasileira presentes em cultos de matriz africana. A proposta da produção é retratar a diversidade espiritual expressa por meio do canto e da percussão, reunindo imagens e depoimentos de diferentes tradições de fé.
Rivalidade com evangélicos
Durante décadas, a relação entre a Globo e igrejas evangélicas foi marcada por distanciamento e críticas mútuas. Na teledramaturgia da emissora, personagens religiosos foram frequentemente apresentados sob estereótipos negativos.
Entre os exemplos citados por críticos evangélicos estão o pastor Hilário, vivido por Jorge Dória em Tieta (1989), caracterizado como oportunista; o pastor Muriel, interpretado por Edson Celulari em Decadência (1995), marcado por atitudes vingativas; a evangelista Edivânia, de Duas Caras (2007), com perfil extremista; e Creusa, personagem de Juliana Paes em América (2005), que mantinha aparência religiosa mas confessava traições conjugais.
A origem desse atrito é comumente associada à aquisição da RecordTV pelo bispo Edir Macedo em 1989, líder da Igreja Universal do Reino de Deus. A compra da emissora fez da Record concorrente direta da Globo, até então ligada historicamente à tradição católica. A disputa resultou em episódios de trocas públicas de críticas entre líderes religiosos e veículos de comunicação.
Mudanças na emissora
Nos últimos anos, a Globo tem promovido aproximações com o público evangélico. A emissora passou a incluir eventos gospel em sua programação, convidar cantores cristãos para programas de auditório e criar personagens com perfil evangélico mais equilibrado e positivo. Um exemplo recente foi a protagonista Sol, vivida por Sheron Menezzes na novela Vai na Fé (2023), retratada como mulher de fé, trabalhadora e resiliente.
Em outubro, a emissora planeja levar ao ar a novela das 21h Três Graças, que contará com o personagem Jorginho, interpretado por Juliano Cazarré. Na trama, ele será um ex-detento que encontra redenção por meio da fé e busca reconstruir a vida após deixar o presídio.
A exibição do especial Sons de São Paulo – Música Religiosa e a escolha da bispa Sonia Hernandes como uma das vozes presentes no episódio são interpretadas por analistas como mais um movimento da emissora em direção ao crescente público protestante brasileiro.
Segundo o Censo de 2022, divulgado pelo IBGE, os evangélicos já representam cerca de 26,9% da população do país, configurando um grupo de peso no cenário social, político e midiático atual.