No Domingo, 24 de Agosto de 2024, foi celebrado o Dia da Infância, data que trouxe à tona um debate relevante: os limites entre incentivar talentos e expor crianças a pressões adultas por meio de narrativas de empreendedorismo precoce.
Embora bem-intencionadas, muitas iniciativas podem configurar formas modernas de trabalho infantil, ainda que disfarçadas de oportunidades de desenvolvimento.
Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, em 2023, o número de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos em situação de trabalho infantil atingiu o menor patamar desde 2016, com 1,607 milhão de casos – uma redução de 14,6% em relação ao ano anterior. Este contingente representa 4,2% da população nesta faixa etária.
Apesar da evolução positiva nos indicadores formais, preocupa o surgimento de modalidades menos visíveis de exploração. A apologia ao empreendedorismo infantil, frequentemente divulgada como positiva nas redes sociais, pode antecipar expectativas de produtividade e geração de renda em uma fase dedicada ao desenvolvimento socioemocional e lúdico.
Para a psicóloga Paula Santos, a linha entre estímulo e sobrecarga é tênue. “O empreendedorismo infantil pode parecer uma alternativa interessante, mas muitas vezes esconde uma lógica de trabalho precoce. Isso gera consequências emocionais sérias, como a perda do direito ao lazer, à experimentação e ao tempo da infância”, afirmou, segundo a Comunhão.
Santos destacou que a infância é um período fundamental para descobertas, brincadeiras e desenvolvimento sem as pressões típicas da vida adulta. A compressão dessas etapas naturais pode levar a quadros de ansiedade, insegurança e exaustão emocional.
O desafio atual, segundo especialistas, reside em discernir entre o incentivo saudável às habilidades infantis e a imposição de responsabilidades inadequadas para a idade. Atividades lúdicas e educativas devem preservar seu caráter espontâneo, sem transformar-se em veículos para ganho financeiro ou busca de status.
Embora as estatísticas oficiais registrem queda no trabalho infantil tradicional, as novas formas de adultização precoce – muitas vezes incentivadas por discursos de superação e sucesso – não são captadas por esses indicadores, mas deixam marcas profundas no desenvolvimento psicológico e emocional das crianças.
A proteção da infância requer, portanto, não apenas o combate ao trabalho infantil convencional, mas também a crítica consciente a modelos que substituem o brincar e o explorar pelo produzir e performar. Preservar o direito de ser criança segue sendo fundamental para garantir um desenvolvimento saudável e um futuro emocionalmente equilibrado.