Organizações de monitoramento e ajuda humanitária relataram, nas últimas semanas, uma escalada de violência contra comunidades cristãs na África Central e Meridional, com destaque para Moçambique e República Democrática do Congo. Segundo o Middle East Media Research Institute (MEMRI), a atuação de facções locais filiadas ao Estado Islâmico inclui decapitações, incêndios e destruição de igrejas e residências.
A Província do Estado Islâmico de Moçambique (ISMP) divulgou 20 fotografias que mostram quatro ataques realizados no distrito de Chiure, província de Cabo Delgado, no norte do país. As imagens retratariam a invasão de vilarejos, o incêndio de uma igreja e de diversas casas, além das execuções de um integrante de milícias locais e de dois civis cristãos. De acordo com a análise do MEMRI, outros corpos de membros dessas milícias também aparecem nas imagens.
O vice-presidente do MEMRI, Alberto Miguel Fernandez, declarou à Fox News: “O que vemos na África hoje é uma espécie de genocídio silencioso ou uma guerra silenciosa, brutal e selvagem que está ocorrendo nas sombras e muitas vezes ignorada pela comunidade internacional”. Ele alertou para o risco de grupos jihadistas conseguirem “tomar não um, não dois, mas vários países na África”.
A Província do Estado Islâmico na África Central (ISCAP) também assumiu a autoria de um ataque, em 27 de julho, à aldeia cristã de Komanda, na província de Ituri, na República Democrática do Congo. Segundo o MEMRI, pelo menos 45 pessoas morreram após militantes abrirem fogo contra uma igreja católica e incendiarem residências, lojas e veículos. Fotografias divulgadas pelo grupo mostraram construções em chamas e corpos de vítimas.
Na província moçambicana de Cabo Delgado, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) informou, em 05 de agosto, que mais de 46 mil pessoas foram deslocadas entre 20 e 28 de julho em razão de ataques insurgentes. Aproximadamente 60% dos deslocados eram crianças. Relatos apontam que, no mesmo período, ao menos nove cristãos foram mortos em ataques separados.
Segundo o MEMRI, em 22 de julho, combatentes do Estado Islâmico de Moçambique capturaram e decapitaram seis cristãos na vila de Natocua, distrito de Ancuabe. Já nos dias 24 e 25 de julho, três cristãos teriam sido mortos no distrito de Chiure, conforme informações do Terrorism Research & Analysis Consortium divulgadas pela instituição Barnabas Aid.
A insurgência no norte de Moçambique já dura mais de oito anos, com acusações de decapitação de civis e sequestro de crianças para trabalho forçado ou uso como soldados. Estimativas da ONU indicam mais de 1 milhão de deslocados, resultado da violência e de crises climáticas recentes.
Fernandez afirmou que, após a derrota do Estado Islâmico no Oriente Médio, facções remanescentes procuram áreas vulneráveis para expandir seu domínio. “O que precisamos ver é que eles sejam completamente derrotados na África”, disse.
Organizações como Médicos Sem Fronteiras iniciaram operações de emergência para atender deslocados no distrito de Chiure. O conflito também impacta projetos econômicos na região: em 2021, a TotalEnergies suspendeu um investimento de US$ 20 bilhões em exploração de gás natural offshore em Cabo Delgado devido à insegurança.
Na República Democrática do Congo, o exército atribuiu o ataque em Komanda à Força Democrática Aliada (ADF), grupo que declarou lealdade ao Estado Islâmico em 2019 e busca criar um califado islâmico em Uganda. As ADF têm histórico de ataques contra civis no leste do Congo e em áreas próximas à fronteira ugandesa.