Imagens de bodycam revelam disparos contra suspeito com as mãos na cabeça; dois policiais estão presos por homicídio doloso.
Imagens captadas por câmeras corporais de policiais militares revelam um momento brutal: a execução de Igor Oliveira de Moraes Santos, de 26 anos, que aparece rendido, com as mãos na cabeça, antes de ser baleado por dois agentes da Polícia Militar de São Paulo. O caso ocorreu na última quinta-feira (10), durante uma operação na comunidade de Paraisópolis, zona sul da capital.
No vídeo, os PMs invadem uma residência. Um deles abre a porta do quarto e Igor é visto agachado atrás da cama, com ambas as mãos sobre a cabeça. O policial faz dois disparos, que atingem a parede e ordena que Igor se levante. Ao se erguer, ainda com uma das mãos para o alto, o suspeito é alvejado por dois agentes: Robson Noguchi de Lima e Renato Torquatto da Cruz. Após os tiros, Igor cai no chão. Em seguida, um dos policiais alerta: “As COP, as COP” — referência às câmeras corporais em funcionamento.
As imagens, segundo a própria Polícia Militar, demonstram que a ação violou os protocolos legais de abordagem e uso da força. Ambos os policiais foram presos em flagrante após a análise dos vídeos.
“O erro foi claro e imediato. Nossa instituição tem o compromisso com o acerto”, afirmou o coronel Emerson Massera, chefe da comunicação da PM. “Assim que verificamos que os policiais não agiram dentro das excludentes de ilicitude, eles foram autuados.”
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) também se posicionou sobre o caso neste sábado (12):
“Com a análise das câmeras, vimos que houve desvio de conduta. Os dois policiais vão ser indiciados por homicídio doloso, apresentados à Justiça e vão responder pelo crime que cometeram. E vai ser assim sempre.”
Vídeo mostra o momento em que os agentes entram na residência: Igor Oliveira aparece na imagem atrás da cama, com as mãos na cabeça.
Reação e caos na comunidade
A operação policial, que resultou ainda na morte de outro homem e na prisão de três suspeitos, desencadeou uma onda de revolta na comunidade. Na noite de quinta-feira, moradores fecharam ruas, incendiaram objetos, danificaram carros e soltaram fogos de artifício em protesto.
Paraisópolis, que já foi palco de outras ações violentas da PM nos últimos anos, voltou ao centro do debate sobre abuso de autoridade, racismo estrutural e violência policial nas periferias. O caso deve ser acompanhado pelo Ministério Público e já gerou cobranças de organizações de direitos humanos por responsabilização exemplar dos envolvidos.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação/CNN Brasil