A igreja NewSpring, sediada na Carolina do Sul, anunciou oficialmente sua saída da Convenção Batista do Sul (SBC, na sigla em inglês) após divergências quanto ao papel de mulheres em funções de liderança pastoral.
A decisão foi comunicada por meio de uma publicação intitulada Atualização de saída da SBC, divulgada recentemente no site da congregação.
Segundo a NewSpring, seu envolvimento com a SBC passou a ser questionado após a ordenação de Meredith Knox como “pastora docente”, um cargo que contraria a declaração de fé da denominação, que estabelece que apenas homens podem exercer a função de pastor.
Em setembro de 2024, o Comitê de Credenciamento da SBC entrou em contato com a igreja expressando preocupações de que ela não estaria “identificada intimamente” com a declaração de fé da Convenção, especialmente no que diz respeito ao papel das mulheres no ministério. Ainda assim, o comitê concluiu posteriormente que a NewSpring permanecia “em cooperação amigável” com a denominação.
Apesar dessa avaliação, a liderança da igreja afirmou que a decisão provocou divisões internas na SBC. “Após consideração fervorosa, decidimos nos retirar da participação nacional da SBC”, informou a equipe de liderança em comunicado. “Esta decisão não é sobre discordância com os principais compromissos da SBC, mas sobre preservar a unidade no corpo de Cristo.”
A igreja declarou ainda que acredita que “tanto homens quanto mulheres são chamados para o ministério e liderança”, embora mantenha a posição de que o papel de ancião, supervisor ou pastor principal deve ser exercido por “homens qualificados”. Conforme acrescentado, “nossa equipe de liderança e pastores do campus continuarão sendo homens qualificados, e continuaremos a capacitar homens e mulheres em seus chamados dados por Deus, mantendo as distinções bíblicas na governança”.
A decisão foi motivada, segundo a liderança, por “um desejo de unidade e um compromisso com a missão de Cristo”. O texto conclui afirmando que a saída da SBC permitirá à igreja “focar no que mais importa: pregar o Evangelho e ver todos em todos os lugares em um relacionamento diário com Jesus”.
Doutrina conservadora
A permanência da NewSpring na SBC havia sido alvo de críticas, como expressou o presidente da Convenção, Clint Pressley, em publicação na rede social X (antigo Twitter), no mês de fevereiro: “Meu entendimento é que nosso Comitê de Credenciais considerou uma igreja em cooperação amigável que tem uma pastora docente. O comitê precisa dar outra olhada nisso. Nossa declaração de fé é clara sobre as qualificações para um pastor”.
Nos últimos anos, a Convenção Batista do Sul tem enfrentado tensões internas sobre a presença de mulheres em cargos pastorais. Em 2023, a SBC votou pela exclusão da Igreja Saddleback, uma das maiores congregações da denominação, localizada na Califórnia, justamente por ter mulheres no ministério pastoral.
A questão continua em debate dentro da convenção. Está prevista para a Reunião Anual da SBC, que ocorrerá em junho deste ano em Dallas, Texas, a votação de uma proposta de emenda constitucional — conhecida como Emenda à Lei — que proibiria formalmente a ordenação de mulheres como pastoras em igrejas afiliadas.
A emenda, embora aprovada por maioria durante a assembleia de 2023, não alcançou os 66,66% exigidos para ratificação. Pastores defensores da proposta afirmaram em nota conjunta: “É evidente que o Credentials Committee precisa do esclarecimento que esta Emenda teria fornecido. Por essa razão, estamos apoiando um esforço renovado para emendar a Constituição da SBC.”
Por outro lado, há líderes influentes que se opõem à emenda, entre eles o ex-presidente da SBC, JD Greear. Em publicação anterior à votação do ano passado, Greear afirmou: “Continuo convictamente contra esta emenda, não por causa de seu conteúdo, mas por sua tentativa de minar nossos princípios históricos de cooperação”.
Em outra ocasião, ele classificou a proposta como “insensata” e “desnecessária”, destacando que sua aprovação poderia resultar na saída de diversas congregações, especialmente minoritárias.
A discussão em torno da presença feminina no ministério segue como um dos temas centrais do atual momento da Convenção Batista do Sul, revelando as tensões entre interpretação doutrinária, práticas eclesiásticas e a diversidade de abordagens adotadas pelas igrejas locais, de acordo com informações do The Christian Post.
