A doutrina da condenação eterna é tema recorrente de debate entre cristãos e costuma gerar desconforto em diferentes tradições. Para alguns, a ideia de juízo final parece difícil de conciliar com o amor de Deus. Para outros, o assunto funciona como alerta e reforço da seriedade do Evangelho. Nesse contexto, dois pastores – um norte-americano e um brasileiro – apresentam ênfases distintas, mas com um ponto em comum: segundo eles, há esperança para quem ainda não crê, desde que a decisão de fé aconteça em vida.
O pastor Dan Delzell, da Igreja Luterana Redentor, em Nebraska (EUA), resume sua posição de forma direta. “Os incrédulos estão no caminho da condenação, e não da salvação”, afirma. Para ele, a questão não se limita à discussão sobre se um cristão pode perder a salvação, mas se pessoas que não creem podem escapar da condenação eterna. A resposta, segundo Delzell, é positiva, mas restrita ao tempo presente, enquanto a pessoa está viva.
Ele recorre a Hebreus 9:27 (“O homem está destinado a morrer uma só vez, vindo depois disso o juízo”) para sustentar que não há neutralidade após a morte. Por isso, insiste que “os incrédulos só podem escapar da sua condenação enquanto estiverem aqui na Terra”.
Ao tratar do inferno, Delzell afirma que procura manter a linguagem usada por Jesus nos Evangelhos, citando textos como Marcos 9 (“onde o seu verme não morre, e o fogo nunca se extingue”) e Mateus 13 (“fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes”). Em sua avaliação, essas imagens têm função de advertência. “Jesus falava regularmente sobre o inferno para alertar as pessoas sobre sua existência e explicar como evitá-lo”, explica.
Apesar da ênfase na seriedade do tema, Delzell destaca o alcance do perdão oferecido no Evangelho. “Fico muito feliz que ‘Cristo morreu pelos pecados de uma vez por todas’ e que ‘Deus quer que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade’”, afirma. Em sua leitura, até mesmo um descrente pode “perder a sua condenação”, isto é, escapar dela, se se voltar a Cristo em arrependimento e fé.
Chamado ao arrependimento
No Brasil, o pastor Marcos Granconato, da Igreja Batista Redenção, em São Paulo (SP), aborda o assunto a partir da condição do coração humano. Ele descreve o início da fé como uma rendição consciente, inspirada, entre outros textos, no discurso de Estevão em Atos.
Ao tratar de uma resposta pessoal ao Evangelho, apresenta um exemplo de oração de confissão para quem deseja se arrepender: “Senhor Jesus, até hoje, eu tenho desprezado a Palavra Divina. Eu resisto ao Espírito Santo, mas hoje tudo isso vai mudar. Hoje eu quero humildemente me render. Peço, Senhor Jesus, perdoa-me. Não tenho esperança em mais ninguém. Creio em ti agora e confio apenas em ti para a minha salvação”, diz.
Granconato afirma que esse tipo de oração expressa o que considera o passo decisivo. “Se você é um incrédulo você deve crer, crer em Cristo, invocando o seu nome, e todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”, afirma, fazendo referência à promessa bíblica.
Enquanto Delzell enfatiza a urgência do tempo – a necessidade de uma decisão em vida –, Granconato destaca a profundidade da mudança interior. Para o pastor brasileiro, arrependimento não é apenas abandonar crenças anteriores, mas deixar de resistir ao Espírito, reconhecer a própria culpa e se colocar em dependência de Cristo.
Os dois pastores utilizam abordagens diferentes, mas convergem quanto a pontos centrais. Delzell sublinha o limite temporal, argumentando que a decisão em relação ao Evangelho precisa ocorrer antes da morte. Granconato destaca a postura de quem responde ao chamado, insistindo que essa decisão envolve rendição genuína. Ambos rejeitam a ideia de neutralidade espiritual e afirmam que a salvação é apresentada na Bíblia como possível e acessível, mas ligada à resposta pessoal a Cristo.
Para reforçar sua posição, Delzell menciona a narrativa do homem rico e Lázaro, em Lucas 16, interpretando o texto como evidência de que, após a morte, o lamento não altera a situação espiritual. Granconato, por sua vez, insiste em uma conversão que, segundo ele, envolve arrependimento e abandono da autoconfiança, de acordo com informações da revista Comunhão.
Na síntese, o ponto comum destacado pelos dois é que enquanto há vida, existe a possibilidade de mudança. A partir dessa convicção, ambos mantêm o convite para que o tema da condenação eterna seja enfrentado não apenas como discussão doutrinária, mas como um chamado ao arrependimento em Cristo.









































