O ex-jogador Kaká participou, em uma sexta-feira, 14 de novembro, de um culto intitulado “Encontro de Homens” na Igreja Família, em Sorocaba (SP). Ele chegou com roupas simples, sem referências a marcas esportivas, e trocou o ambiente de estádios e entrevistas por um púlpito, uma Bíblia e uma programação voltada a pregação e testemunho pessoal. O templo estava lotado antes das 19h30, com homens, mulheres e crianças ocupando cadeiras e corredores.
A reunião teve formato de culto, com cânticos, orações e momentos de participação da igreja. Em vez de confraternização com música alta ou eventos esportivos, os presentes acompanharam uma programação religiosa que incluía também o recolhimento de ofertas, feito em caixas que eram passadas entre as fileiras de assentos. Trinta e dois minutos após o início, o pastor responsável chamou Kaká ao palco.
Antes de iniciar a pregação, o ex-atleta repetiu um gesto conhecido de sua carreira: fez embaixadinhas com duas bolas da Copa do Mundo de 2026, que estavam autografadas e foram chutadas em direção ao público. Houve disputa para alcançar as bolas. Um jovem do Rio de Janeiro, que tinha viajado mais de 530 quilômetros para o evento, recebeu ainda uma camisa autografada sorteada por Kaká.
A mensagem principal teve como tema “O poder da presença de Deus”. Kaká subiu ao altar, testou o microfone, observou a iluminação, conferiu um tablet com fotos e vídeos de sua trajetória e, em seguida, iniciou a fala diante de aproximadamente 1.500 pessoas. Ele dividiu seu relato em cinco capítulos, associando momentos da carreira a textos bíblicos e afirmando que a fé funcionou como proteção e orientação.
O primeiro episódio lembrado foi o acidente em uma piscina, em outubro de 2000, que o deixou temporariamente afastado do futebol e poderia ter comprometido sua capacidade de andar. “Não fiquei tranquilo de que seria jogador de futebol… Mas eu tinha paz”, disse, em referência ao período de recuperação. Em seguida, mencionou a convocação para a Copa do Mundo de 2002, quando ainda atuava pelo São Paulo e passou a integrar um elenco com jogadores como Ronaldo, Ronaldinho, Rivaldo, Cafu, Roberto Carlos, Dida e Denílson. “Nunca imaginei que estaria ali”, afirmou.
Kaká também abordou derrotas marcantes na carreira, como a final da Liga dos Campeões perdida para o Liverpool em 2005 e a eliminação da seleção brasileira para a França na Copa do Mundo de 2006. “Foram as piores derrotas da minha vida”, declarou, ao comentar o impacto desses resultados. Ele relatou ainda a conversa em que pediu ao então presidente do São Paulo, Marcelo Portugal Gouvêa, para ser negociado com o Milan. Segundo o ex-jogador, ouviu como resposta a lembrança de que teria concorrência de atletas como Rivaldo e Rui Costa, mas decidiu aceitar a transferência.
No clube italiano, Kaká alcançou o auge da carreira. Uma imagem exibida no telão mostrou o momento em que foi eleito melhor jogador do mundo em 2007, à frente de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. Ao comentar a cena, ele observou, em tom descontraído: “A cara do Cris olhando o terceiro lugar é legal”.
Na sequência, o ex-jogador citou o período em que atuou pelo Real Madrid, quando parte da imprensa o classificou como “a pior contratação da história” do clube. Ele relatou ter vivido quatro anos de crise de identidade, sem conquistas como Liga dos Campeões ou prêmios individuais. “Era muito difícil levantar da cama, ver notícias suas nos jornais todos os dias. Quem eu sou? O melhor do mundo? Ou uma das piores contratações da história do Real?”, questionou, ao descrever a fase.
Foi nesse contexto que apresentou a conclusão que considera central em sua trajetória. “Descobri que a identidade é o nosso maior bem. Eu não era o melhor jogador do mundo nem a pior contratação. Eu era filho de Deus”. A frase foi recebida com manifestações de apoio do público, que respondeu com “améns” e aplausos.
Kaká comentou também sua formação em teologia, realizada de maneira reservada. Ele informou que não se apresenta como pastor e desde que deixou a Igreja Renascer em Cristo não revela qual igreja frequenta. Segundo relatou, tem percorrido diferentes igrejas para compartilhar seu testemunho.
Ao final do culto, o espaço em frente ao altar foi tomado por pessoas que buscavam fotos, autógrafos e breves cumprimentos. Camisas, Bíblias e celulares eram erguidos em direção ao ex-jogador. O deslocamento até a saída levou cerca de 11 minutos.
De acordo com o GE, após o encerramento, Kaká deixou o local longe das câmeras esportivas e da rotina de jogador profissional, apresentando-se como alguém que, segundo seu próprio relato, entende ter sido chamado para uma nova etapa de vida, centrada em sua fé cristã.









































