Uma criatura de olhos arregalados, dentes afiados e expressão cômica-assustadora se tornou o centro de uma discussão inusitada entre pais cristãos. Afinal, o que é esse tal de Labubu, e por que ele está dentro das mochilas, prateleiras e vídeos de tantos jovens e adolescentes em 2025? Tudo começou quando uma celebridade do K-pop apareceu com um Labubu pendurado na bolsa, transformando o brinquedo em um símbolo de desejo pop e aumentando sua procura global.
No Brasil, o modelo original pode custar até R$ 1.445,90, enquanto versões paralelas, como o “Labunu”, chegam a R$ 500. A febre mundial, porém, tem provocado reações bem diferentes do entusiasmo que costuma cercar fenômenos da moda. Em vídeos que viralizaram nas redes sociais, cristãos apontam semelhanças visuais entre o boneco e Pazuzu, entidade demoníaca que ficou conhecida como o vilão do filme O Exorcista.
Em 2025, a valorização do Labubu atingiu proporções impressionantes. Segundo levantamento do site The Toy Chronicle, a marca responsável pela criação do boneco, Pop Mart, superou o valor de mercado de gigantes como a mineradora brasileira Vale, uma das maiores do mundo. Isso revela não apenas a força do consumo cultural ligado à estética “fofa e estranha”, mas também o impacto financeiro que personagens da cultura pop podem exercer globalmente, especialmente quando impulsionados por fenômenos como o K-pop ou pop coreano.
Um monstrinho pop com raízes artísticas
Ao contrário do que circula nas redes, o Labubu não é novo. Ele foi criado em 2015 pelo artista visual Kasing Lung, de Hong Kong, como parte da linha de toys art da marca How2Work. Segundo o próprio autor, a inspiração vem de criaturas da mitologia nórdica e universos de fantasia, como os trolls das florestas.
A proposta do artista é simples, ele quis produzir bichinhos colecionáveis com estética grotesca e sentimentos ambíguos. Eles são vendidos em edições limitadas e, por isso, viram alvo de fãs, revendedores e influencers de luxo.
Apesar da aparência incomum, a linha não faz menção direta a nenhuma figura religiosa ou espiritual. No entanto, a estética perturbadora, somada à ignorância sobre a origem da peça, abriu espaço para que interpretações espirituais se sobrepusessem à proposta artística.
Pazuzu, a confusão com o demônio do cinema
O nome mais citado nas comparações é Pazuzu, entidade da antiga Mesopotâmia que, originalmente, era considerada um espírito protetor contra forças do mal, mas que se popularizou no Ocidente como o demônio principal do filme O Exorcista. A partir daí, muitas figuras de aspecto animalesco e desfigurado passaram a ser relacionadas a ele, mesmo sem qualquer vínculo real.
“Tem muita gente perguntando se ele teria alguma ligação oculta com Pazuzu, aquela figura demoníaca e pagã que aparece até em filmes de terror, né? Filmes pesados, como O Exorcista e outros por aí”, comentou o pastor André Valadão, em vídeo recente publicado em suas redes sociais. Para ele, mais do que gerar pânico, a preocupação deve conduzir os cristãos ao discernimento.
“A gente precisa lembrar que nossas crianças são bombardeadas todos os dias por personagens, histórias, produtos… E muitos carregam mensagens sutis, subliminares. E é por isso que a atenção dos pais precisa ser constante”, declarou.
Quando o visual gera desconforto espiritual
Para além das lendas que circulam online, existe uma questão prática sendo discutida entre líderes cristãos é se é seguro introduzir personagens de visual sombrio no ambiente familiar? “Por si só, acredito que não, mas uma coisa muito comum é que muitos acabam relacionando figuras assim com o misticismo”, afirma o pastor Alex Gandra, da Comunidade Batista Karis, de São Fidélis/RJ. Ele reconhece que boa parte do sucesso do Labubu se deve à curiosidade e ao apelo comercial que envolve esse tipo de estética.
No entanto, o pastor faz um alerta. “Num mundo vazio de Deus, as influências malignas se utilizam de visuais sombrios para usar como portas para fins mais profundos”, diz. Para as famílias que se sentem desconfortáveis com o tema, Gandra sugere um princípio simples. “A orientação bíblica que podemos usar para essa pergunta é: afastar-se da aparência do mal. Mesmo parecendo simplista, em um tempo tão difícil, com tantas más influências, o melhor é não deixar entrar em casa coisas assustadoras, bizarras e estranhas como estes bichinhos aí. É melhor não arriscar”, reflete o pastor.
Nem tudo convém
O dilema em torno do Labubu também revela o quanto os pais precisam estar atentos não só ao que os filhos consomem, mas às razões por trás desses desejos. “A gente precisa se perguntar: por que eles gostam do que gostam? O que sentem quando estão brincando com essas coisas?”, questiona André Valadão.
“Desde pequenos, precisamos ensiná-los que nem tudo que é lícito, nem tudo que está disponível para nós, convém”, relembra ele. Para o pastor Alex Gandra, o equilíbrio entre discernimento espiritual e julgamento precipitado passa por conhecimento e oração. “Julgar de forma precipitada não resolve as questões que precisam de discernimento. É preciso buscar o máximo de informações e manter-se em oração”, exorta.
Discernir sem temer
No fundo, a preocupação cristã com o Labubu não é sobre o boneco em si, mas sobre o que ele representa, como a falta de filtros espirituais diante de tudo o que entra nos lares. Para alguns, é apenas um brinquedo alternativo. Para outros, um sinal de alerta sobre os símbolos que permeiam a cultura pop.
A Bíblia aconselha a julgar todas as coisas e reter o que é bom (1 Tessalonicenses 5:21). Diante disso, pais e mães não precisam agir com pânico, mas com vigilância ativa. “Vigilância não é medo. É cuidado de pai e mãe. Então, não baixe a guarda. Essas tendências passam, mas a responsabilidade de proteger o coração dos nossos filhos, dos pequenos, essa continua”, resume Valadão.
Artigo publicado originalmente em Comunhão