A declaração do professor Marcos Dantas, da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, causou revolta nas redes sociais e reacendeu o debate sobre os limites do discurso político-ideológico no espaço público. Em resposta a uma imagem da menina Vicky Justus, 5 aninhos, filha de Roberto Justus, com uma bolsa de luxo, Dantas comentou “só guilhotina”, remetendo ao símbolo de execuções da Revolução Francesa. A frase foi interpretada como incitação à violência contra a criança.
A repercussão foi imediata. O deputado Nikolas Ferreira se manifestou publicamente, afirmando que a esquerda estaria desejando a morte de uma criança por usar uma bolsa. A mãe da menina, Ana Paula Siebert, anunciou que moverá ação judicial contra o professor e pediu que seguidores denunciem o perfil dele, que já está fora do ar.
Pastores de diferentes denominações evangélicas também reagiram à fala. Para o pastor Glauco Ferreira, da Igreja Metodista em Guadalupe, Rio de Janeiro, o episódio ultrapassa qualquer alegação de metáfora ou crítica social.
“A guilhotina não é símbolo de justiça, mas de morte. Ela remete a um período sombrio da história, marcado por sangue, intolerância e desumanização”, afirmou. Ele destacou que, ao ser evocada contra uma criança, a palavra se torna um atentado simbólico contra a infância e contra os valores que sustentam uma sociedade civilizada.
A fala de Dantas também colocou em evidência seu histórico de atuação em governos petistas. Durante o primeiro mandato de Lula, ele ocupou cargos relevantes nos Ministérios das Comunicações e da Educação, além de integrar o Conselho da Anatel. Atualmente, lidera um grupo de pesquisa marxista vinculado à UFRJ. A polarização ideológica nas universidades públicas voltou a ser alvo de críticas após o episódio.
Para o pastor Márlon Silveira, da Igreja Batista em Maruípe, Vitória, a sociedade vive tempos marcados por reações impulsivas e crescentes violências simbólicas. “Somos tentados a reagir impulsivamente e falar absurdos como esse professor falou”, disse.
Ele citou Romanos 12:12 ao propor uma saída bíblica: vencer o mal com o bem. “Nesse mundo polarizado onde a violência se manifesta, é preciso lembrar da bem-aventurança de que os pacificadores serão chamados filhos de Deus”, completou.
O pastor Anderson Aurora, da Igreja Evangélica Batista de Vitória (IEBV), também destacou o contraste entre a fala do professor e os valores cristãos. “A orientação bíblica é sempre a paz, nunca desejar o mal a ninguém”, afirmou. Ele lamentou que o comentário tenha sido dirigido justamente à parte mais vulnerável da cena: uma menina de cinco anos. “Em todo tempo a palavra de Deus vai pregar o amor”, disse. “É injustificável.”
Limites da crítica
O debate sobre os limites da crítica social foi outro ponto abordado por líderes religiosos. O pastor Luiz Gustavo Marques Lança, da Igreja Batista da Redenção, em Vitória, ES, foi direto: “O discurso de ódio e a incitação à violência, mesmo em tom de crítica social, não condiz com o exemplo de Cristo”. Segundo ele, o cristão é chamado a ser luz no mundo, inclusive nas redes sociais. “Suas palavras devem refletir paz, justiça e amor”.
O episódio expõe a escalada do discurso violento e evidencia a fragilidade do diálogo entre campos ideológicos opostos. O que poderia ter se configurado como uma crítica ao consumismo infantil acabou se transformando em uma ofensa direta à criança e à sua família, com possíveis desdobramentos legais e sociais.
Pastor Glauco Ferreira reforçou que o uso da liberdade de expressão não pode ser um pretexto para propagar o ódio. “O que se viu nesse episódio não foi uma denúncia legítima contra os excessos do luxo, mas um ataque covarde à figura mais vulnerável daquela imagem.”
A resposta dos líderes religiosos aponta para uma tentativa de frear a escalada da retórica violenta. Ao invés de alimentar ciclos de ressentimento, eles propõem o retorno ao Evangelho como fonte de equilíbrio e sabedoria. Para eles, a crítica deve ser feita com empatia, não com agressividade.
Ainda que o professor não tenha mais se pronunciado publicamente, o caso segue provocando debates. O papel do educador, os limites da crítica social, o uso da linguagem violenta e a exposição de crianças nas redes formam um conjunto de questões que não se encerram com a exclusão de um perfil, mas exigem reflexão contínua.
Os pastores entrevistados enfatizam uma mensagem clara: o mal não se combate com mais mal. Diante da radicalização crescente, o Evangelho segue como um chamado à paz, ao amor e ao respeito absoluto pela vida, desde o seu início.
Fonte: Comunhão