O Pub London, local simbólico do movimento LGBTQI+ em Oslo, foi escolhido pelo presidente da Igreja da Noruega, bispo Olav Fykse Tveit, para um pronunciamento público de pedido de perdão à comunidade. Em discurso oficial, o líder religioso reconheceu que a instituição “falhou repetidamente” e “causou vergonha e grande dano” a pessoas que se identificam com essa comunidade.
Tveit afirmou que a Igreja demorou a alterar sua doutrina oficial, que hoje permite a união entre pessoas do mesmo sexo, e pediu desculpas também por ter impedido a contratação de homossexuais no passado e por ter excluído membros que desafiaram normas de gênero e relacionamento. Segundo o bispo, a Igreja por muito tempo manteve uma “narrativa predominante sobre o tipo de amor certo ou errado”, o que contribuiu para discriminação e assédio dentro e fora dos templos.
Durante o discurso, Tveit agradeceu às organizações LGBTQI+ norueguesas pela disposição em dialogar com a Igreja, chamando essa atitude de “ato de generosidade e graça”. “Aqueles que antes se sentiam condenados agora nos acolhem de braços abertos. Isso é graça”, afirmou.
Desde 2007, a Igreja da Noruega passou a permitir que pessoas em relacionamentos homoafetivos exerçam cargos ministeriais. Em 2016, foi aprovada a realização de casamentos entre pessoas do mesmo sexo em templos luteranos. Embora a Igreja tenha deixado de ser uma instituição estatal em 2017, ela continua a receber financiamento público proveniente de impostos.
Os bispos presentes à cerimônia de endosso ao movimento LGBTQI, realizada em 16 de outubro, declararam que ainda há caminhos a percorrer para fortalecer a inclusão. Entre as medidas sugeridas, estão a criação de espaços seguros nas igrejas, o hasteamento de bandeiras do arco-íris, a realização de “cultos do arco-íris” e a participação ativa nas Paradas do Orgulho LGBTQI+ em Oslo.
De acordo com o informado pelo Evangelical Focus, Tveit também denunciou, em nível global, a violência e estigmatização justificadas por argumentos religiosos, expressando gratidão aos cristãos LGBTQI que “não desistiram da fé, apesar da opressão”.
Remanescentes fiéis
O cenário religioso do país, contudo, continua marcado por divergências teológicas. Em 2024, 36 organizações cristãs — incluindo batistas, católicos, pentecostais e evangélicos luteranos — denunciaram o que classificaram como pressão governamental em questões LGBTQI, afirmando que tais políticas limitam a liberdade religiosa daqueles que mantêm a compreensão bíblica tradicional sobre o casamento e a sexualidade.
Mesmo dentro da Igreja da Noruega, há líderes e leigos que ainda não apoiam a união entre pessoas do mesmo sexo. Esses grupos afirmam que é possível preservar a visão cristã histórica sobre ética sexual, sem deixar de respeitar e acolher as pessoas que integram a comunidade LGBTQI+.