A família da missionária irlandesa Gena Heraty, sequestrada no Haiti, divulgou nota na última terça-feira, 05 de agosto, afirmando estar “absolutamente devastada” com o ocorrido. O sequestro ocorreu na manhã de domingo, 03 de agosto, na localidade de Kenscoff, situada a cerca de 10 km de Porto Príncipe, capital haitiana.
Segundo o prefeito Massillon Jean, Heraty estava entre os vários sequestrados levados por homens armados que invadiram um orfanato local sem disparar tiros, em uma ação descrita como “planejada”.
Heraty, natural de Westport, no Condado de Mayo, Irlanda, atua como diretora da unidade do orfanato Nos Petits Frères et Sœurs (Nossos Pequenos Irmãos e Irmãs), que acolhe mais de 250 crianças. O grupo de sequestrados inclui também uma criança de três anos. Até o momento, não há confirmação sobre o paradeiro das vítimas.
Segundo informações da emissora estatal irlandesa RTÉ, houve contato telefônico entre a gangue responsável e intermediários no Haiti. A emissora afirma que negociações estão em andamento, embora nenhum detalhe adicional tenha sido confirmado publicamente. O jornal haitiano Le Nouvelliste informou que membros de gangues estão por trás da ação.
De acordo com o prefeito Massillon Jean, os sequestradores arrombaram parte do muro da instituição para obter acesso e se dirigiram diretamente ao prédio onde Heraty estava. Ele afirmou que “não houve troca de tiros”, e classificou o incidente como “um ato claramente coordenado”.
Violência e instabilidade
O sequestro ocorre em meio a uma escalada de violência de gangues no Haiti, especialmente na capital. Dados do Escritório de Direitos Humanos da ONU indicam que, apenas no primeiro semestre de 2025, cerca de 350 pessoas foram sequestradas no país. No mesmo período, pelo menos 3.141 pessoas foram mortas em episódios de violência armada, de acordo com informações da BBC.
Segundo estimativa das Nações Unidas, grupos armados controlam aproximadamente 85% de Porto Príncipe, tornando comum a ocorrência de raptos, extorsões e ataques em bairros como Kenscoff. O jornalista haitiano Harold Isaac, entrevistado pela BBC Radio Ulster, explicou que “negociações estão em andamento entre várias pessoas envolvidas para tentar garantir sua libertação” e alertou: “cerca de 80 a 90% da capital está sob alguma forma de controle de gangues”.
Isaac ainda acrescentou que o bairro onde o orfanato está localizado está sob constante ameaça há pelo menos seis meses, com diversos ataques já registrados anteriormente. Ele definiu a situação como “frágil e deteriorada”.
Reações e articulações internacionais
Em comunicado, a família de Heraty afirmou:
“Estamos trabalhando em estreita colaboração com o NPFS no Haiti e na Irlanda, o governo irlandês e parceiros internacionais que estão fazendo todo o possível para garantir a libertação segura e imediata de Gena e seus colegas”.
O Tánaiste (vice-primeiro-ministro irlandês) e Ministro das Relações Exteriores, Simon Harris, relatou ter discutido o caso com a alta representante da União Europeia para Relações Exteriores, Kaja Kallas, no dia 05 de agosto. Kallas concordou em designar um ponto de contato da UE no Haiti, que atuará diretamente com as autoridades irlandesas no acompanhamento do caso.
Harris também manteve conversa com o Ministro das Relações Exteriores do Haiti, Harvel Jean-Baptiste, solicitando que “tudo seja feito para garantir a libertação da Sra. Heraty e dos demais reféns”.
Apoio e mobilização local
A mobilização por Heraty também ocorre entre colegas e membros da comunidade na Irlanda. Norma Lopez, amiga próxima, afirmou:
“Estamos rezando por seu retorno em segurança para que ela possa continuar seu bom trabalho no Haiti. Seu foco sempre foram as pessoas com necessidades especiais, porque essa é uma das maiores carências do país”.
O radialista Tommy Marren, da Midwest Radio, no Condado de Mayo, descreveu Heraty como “apaixonada, altruísta e resiliente”, e declarou:
“Ela é considerada em sua terra natal como uma santa viva. Ontem à noite, na pequena igreja paroquial de Cushlough, onde ela cresceu, o padre disse que tudo o que podemos fazer agora é orar”.
Sobre a atuação de Gena Heraty
Gena Heraty atua como missionária há décadas no Haiti, sendo reconhecida por seu trabalho em prol de crianças com deficiências e em situação de vulnerabilidade. Sua atuação junto à Nos Petits Frères et Sœurs ganhou notoriedade entre organizações humanitárias, sendo frequentemente citada por seu comprometimento em condições adversas.
A organização, presente em vários países da América Latina e Caribe, tem como missão proporcionar cuidados, educação e proteção a crianças em situação de risco, e opera de forma voluntária e confessional, com apoio internacional