Desde o seu lançamento em 20 de junho, o filme de animação Guerreiras do K-Pop, da Netflix, tem alcançado grande notoriedade internacional. A produção ocupa atualmente a primeira colocação no Top 10 da plataforma no Brasil.
Em escala global, o filme está entre os dez mais assistidos em 93 países e é o número 1 em 13 deles, incluindo Coreia do Sul, Austrália, Irlanda e Suécia.
A trama apresenta um grupo de cantoras de K-pop que, além de ídolos musicais, são secretamente caçadoras de demônios. Unidas, elas enfrentam uma ameaça sobrenatural representada por uma boy band rival, os Saja Boys, que são, na realidade, demônios disfarçados. O enredo combina ação, música e elementos espirituais, tendo como pano de fundo o universo do K-pop — termo que designa a música popular sul-coreana.
Uma das responsáveis pelas canções do filme é EJAE, cantora e compositora sul-coreana com trajetória ligada ao cenário do K-pop. Em entrevista publicada pela revista Forbes, EJAE compartilhou detalhes sobre a música Your Idol, interpretada no longa pelos Saja Boys. Segundo ela, a composição explora a obsessão dos fãs por ídolos musicais — uma obsessão que, no contexto da história, é utilizada pelos vilões para exercer controle espiritual.
EJAE declarou: “Your Idol é cantada pela boy band demoníaca The Saja Boys e é sobre a obsessão dos fãs, porque eles querem que os fãs fiquem obcecados para controlá-los”. A compositora acrescentou: “Isso parece ser um ídolo. Fui criada como cristã e lembrei que é pecado idolatrar algo. Então, foi como uma variação de ‘Eu serei seu ídolo’. Foi meio assustador”.
A fala de EJAE remete ao mandamento bíblico expresso em Êxodo 20:3-5, que diz: “Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura […] não as adorarás, nem lhes darás culto”. A idolatria, em suma, consiste em colocar qualquer coisa — seja pessoa, objeto ou desejo — no lugar que pertence somente a Deus.
Inspirada em músicas como MAMA e Obsession, do grupo EXO, Your Idol carrega uma crítica embutida ao culto exagerado a celebridades, prática comum em determinados segmentos da indústria pop. O uso de demônios como metáfora no filme ressalta esse alerta espiritual.
EJAE também colaborou na criação de outras faixas da trilha sonora, como The Huntrix Mantra, How It’s Done e Golden. Segundo ela, o processo criativo incluiu o recebimento de descrições das cenas por parte dos diretores, a partir das quais compôs as letras em parceria com Mark Sonnenblick. As faixas instrumentais foram desenvolvidas por THEBLACKLABEL, estúdio musical conhecido por sua atuação na indústria do K-pop.
A produção das músicas foi intensa, EJAE relatou: “Havia tantas versões de todas as músicas. Tínhamos músicas diferentes que eles descartaram ou guardaram. Acho que, para uma das músicas, não estou brincando. Fiz cerca de 57 demos”.
A trilha sonora tem sido bem recebida pelo público, especialmente nos Estados Unidos. No domingo, 19 de julho, ela alcançou a segunda colocação na parada Billboard 200. A listagem completa, com os dados finais, será divulgada nesta terça-feira.
O filme, apesar do tom juvenil, recebeu a classificação “PG” do Common Sense Media, que alertou para “cenas potencialmente perturbadoras”. De acordo com o portal, há momentos em que “demônios sugam as almas das pessoas e as fazem desaparecer”, além de cenas com “um rei demônio que envia hordas de lacaios sombrios para eliminar inimigos e dominar o mundo”. Essas características levantam debates entre pais cristãos sobre a adequação do conteúdo. No Brasil, é recomendado para crianças acima de 10 anos.
Ainda assim, Guerreiras do K-Pop foi amplamente aprovado pelo público e pela crítica. No Rotten Tomatoes, que compila críticas cinematográficas, o filme obteve 96% de aprovação no “Tomatômetro”, com base em 46 avaliações de críticos. Entre os espectadores, o índice foi de 91%, com mais de 2.500 comentários positivos registrados até a segunda-feira, de acordo com o The Christian Post.
O sucesso da animação, aliado à reflexão trazida pela compositora EJAE sobre os riscos da idolatria, abre espaço para um debate maior sobre os valores transmitidos por produtos da cultura pop. Em sua declaração, ela relembra a importância de manter os princípios cristãos, inclusive quando envolvidos na criação artística: “Fui criada como cristã e lembrei que é pecado idolatrar algo”.