O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), também pastor evangélico, fez duras críticas à atuação de Silas Malafaia após o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo se tornar alvo de investigação da Polícia Federal nesta semana. Em entrevista ao portal UOL, Otoni destacou que, em sua visão, o pastor arrastou a igreja evangélica para dentro de uma disputa política que não representa a fé cristã.
“Igreja não é Bolsonaro nem Lula”
Ex-bolsonarista, Otoni reforçou que continua se posicionando como conservador e de direita, mas afirmou que a igreja não pode ser confundida com partidos ou candidatos. Segundo ele, muitos fiéis estão “cansados” de ver o espaço religioso sendo usado em meio a embates ideológicos.
“Colocaram a igreja dentro de um balaio de gato da política e, quando ele [Malafaia] fala que o processo contra ele é uma perseguição, ele coloca a igreja mais ainda nesse balaio. Ainda que a nossa preferência tenha sido Bolsonaro [nas eleições de 2022], a igreja não é Bolsonaro, a igreja também não é Lula. A igreja é o evangelho.”
Otoni acrescentou que suas críticas buscam defender os fiéis que rejeitam a ideia de se tornarem massa de manobra política:
“Quando eu critico, estou falando com o povo evangélico que tem sido humilhado pela política. Estou conversando com o campo do crente que não é gado, que é a maioria. Eles querem a polarização de ideias, não a polarização de ídolos, de adoradores de Lula e Bolsonaro.”
O parlamentar negou que haja qualquer perseguição religiosa contra Malafaia.
“Não está havendo perseguição religiosa contra o pastor [Malafaia]. Se ele estivesse em um inquérito policial por ter orado, evangelizado em praça, seria perseguição religiosa, mas não é o caso. Em todo o tempo, ele atacou a Suprema Corte.”
Apoio evangélico e defesa pública
Desde a operação da PF, algumas lideranças evangélicas divulgaram notas em defesa de Malafaia. Para Otoni, entretanto, essas manifestações não surgiram de forma espontânea:
“Não foi feita nenhuma defesa natural. Todas essas defesas que foram publicadas, eu tenho certeza, foram cobradas. Muitos pastores têm receio de não se manifestar, porque ele [Malafaia] é um homem beligerante.”
A defesa de Malafaia também enviou comunicado à imprensa, no qual criticou a operação policial.
“Opinião não é crime, e cobrar governantes faz parte da vida democrática. Com mais de 40 anos de vida pública, o pastor Silas Malafaia sempre se pautou pela transparência, coerência e defesa intransigente do Brasil, não se curvando a pressões, e manterá firme sua voz em defesa do povo brasileiro”, dizia a nota.
A influência sobre Bolsonaro
As investigações da Polícia Federal indicam que Malafaia teria tentado “instigar” o ex-presidente Jair Bolsonaro a descumprir medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O pastor, por sua vez, nega ter influência sobre o ex-presidente e afirma que suas conversas refletem apenas sua “independência”.
Otoni discorda e avalia que a proximidade de Malafaia com a família Bolsonaro é evidente.
“Mesmo depois de ter sido xingado [de babaca], o Eduardo Bolsonaro gravou um vídeo dizendo ‘tamo junto’ para o Malafaia. Ele não fez o mesmo nem para o próprio pai. Isso mostra como o poder de influência dele é forte com a família.”
O comentário do deputado faz referência a áudios revelados pela PF, em que Malafaia critica duramente Eduardo Bolsonaro.
“Vem teu filho babaca falar merda e dando discurso nacionalista. Dei um esporro, mandei um áudio para ele de arrombar e disse: ‘A próxima que tu fizer, gravo um vídeo e te arrebento’. Falei para o Eduardo.”
Em outro trecho, Malafaia teria dito a Bolsonaro:
“Esse seu filho Eduardo é um babaca, inexperiente, que está dando a Lula e à esquerda o discurso nacionalista, e ao mesmo tempo te ferrando. Um estúpido de marca maior. ESTOU INDIGNADO! Só não faço um vídeo e arrebento com ele por consideração a você. Não sei se vou ter paciência de ficar se esse idiota falar mais alguma asneira.”
Folha Gospel com informações de UOL