Pais groenlandeses que vivem na Dinamarca estão travando uma batalha para recuperar seus filhos, retirados de casa após autoridades aplicarem “testes de competência parental” para avaliar se eles eram capazes de criá-los 🇬🇱🇩🇰 pic.twitter.com/uganQCeine
— BBC News Brasil (@bbcbrasil) December 4, 2025
Um vídeo [acima] publicado pela BBC News Brasil no “X” chamou a atenção de muitos seguidores ao levantar um tema polêmico que, na prática, caracteriza o quanto o Estado pode se tornar autoritário e acabar servindo como uma ferramenta de ataque contra a família.
A reportagem diz na legenda: “Pais groenlandeses que vivem na Dinamarca estão travando uma batalha para recuperar seus filhos, retirados de casa após autoridades aplicarem “testes de competência parental” para avaliar se eles eram capazes de criá-los”.
O mesmo tema foi abordado pelo jornal O Globo, ressaltando que um teste psicológico utilizado na Dinamarca para avaliar a capacidade de pais cuidarem de seus filhos tem sido questionado por especialistas em direitos humanos por não considerar adequadamente diferenças linguísticas e culturais, especialmente em casos envolvendo famílias groenlandesas.
O exame, oficialmente chamado forældrekompetenceundersøgelse (FKU), é aplicado por psicólogos licenciados a pedido de municípios. De acordo com a Agência Social e da Habitação da Dinamarca, o objetivo do teste é “descobrir as necessidades individuais da criança e as competências dos pais para atender a essas necessidades”.
As diretrizes do FKU foram desenvolvidas em conjunto com entidades como a Associação Dinamarquesa de Psicólogos e o Ministério dos Assuntos Sociais e do Interior. Autoridades dinamarquesas afirmam que o exame é apenas uma das ferramentas utilizadas em processos de proteção infantil.
Críticos, no entanto, argumentam que a ferramenta não foi adaptada para avaliar pais de origem não dinamarquesa. Mesmo que fossem, contudo, não deixariam de ser autoritárias contra a família.
“Os testes não levam em conta potenciais barreiras linguísticas ou diferenças culturais. Isso coloca os pais groenlandeses em risco de serem avaliados erroneamente”, declarou Louise Holck, diretora do Instituto Dinamarquês de Direitos Humanos. Um relatório de 2022 da mesma instituição alertou que pontuações baixas poderiam representar de forma imprecisa a capacidade cognitiva de um pai groenlandês.
Caso absurdo ilustra críticas
O debate ganhou novo destaque após a retirada de um bebê recém-nascido de sua mãe groenlandesa, Keira Alexandra Kronvold, de 38 anos. Ela realizou o teste em dinamarquês – idioma no qual não é fluente – durante a gravidez. Poucas horas após o parto, em 7 de novembro, autoridades locais removeram a criança com base no resultado do FKU. Kronvold agora só pode visitar a filha uma vez por semana, sob supervisão.
Ela já havia feito o teste em 2014, antes do nascimento do seu segundo filho. Após essa primeira avaliação, perdeu a guarda definitiva de dois filhos. Sobre a aplicação mais recente, disse ao Guardian que lhe disseram ser um teste para verificar se ela era “suficientemente civilizada”.
“As autoridades levaram minha filha embora como se ela fosse uma mera estatística, sem entender que meu amor e minha tradição eram mais importantes do que qualquer resultado de exame”, afirmou.
Contexto
Dados de 2022 indicam que 5,6% das crianças de origem groenlandesa na Dinamarca são colocadas sob cuidados estatais, comparado a 1% das crianças de origem dinamarquesa. Diante da pressão, o ministro da Criança da Groenlândia, Aqqaluaq Egede, reuniu-se com a ministra dinamarquesa dos Assuntos Sociais, Sophie Hæstorp Andersen.
Após o encontro, a ministra dinamarquesa prometeu orientar os municípios a suspenderem o uso do teste, mas não emitiu uma proibição total. Ativistas continuam a pedir o fim da aplicação do FKU em groenlandeses.








































