Em um congresso, Hélder Favarin, missionário brasileiro e pastor cofundador da Igreja C29 Granada, na Espanha, destacou os desafios espirituais que o país enfrenta e refletiu sobre a necessidade de os cristãos estarem preparados para evangelizar.
Hélder, que também é CEO da Community Bible Study International, ministrou sobre o tema “Devemos nos preparar bem para pregar o Evangelho”, no Congresso Europeu de Evangelização, organizado pela Associação Evangelística Billy Graham em Berlim, Alemanha.
“Precisamos de mais igrejas na Espanha. Temos centenas de cidades sem igrejas protestantes ou evangélicas”, disse o pastor ao Christian Daily.
Conforme o ministério “Joshua Project”, na Espanha, apenas 1,61% da população é evangélica. E segundo o portal “Statista”, em janeiro deste ano, havia 4.455 igrejas evangélicas no país.
Na Espanha, Hélder explicou que há uma forte tradição do catolicismo e também “o que muitos descrevem como pós-secularização”.
“Tanto a secularização quanto a espiritualidade estão crescendo, mas há grande ignorância em relação ao verdadeiro Evangelho. E há muitos preconceitos por parte das pessoas”, disse ele.
Esses preconceitos vêm de uma ideia comum — especialmente na Espanha — que vê as igrejas evangélicas como seitas. Essa visão acaba prejudicando quem deseja seguir Jesus e fazer parte de uma congregação:
“A Reforma nunca chegou à Espanha, assim como a todas as partes do sul da Europa. E considero isso um desafio para a multiplicação de igrejas locais e alguns dos aspectos sociais”.
No entanto, Hélder observou que há um interesse crescente pela espiritualidade em todo o país e acredita que as igrejas evangélicas devem responder de uma forma diferente do que faziam antes. Ele enfatiza a necessidade de uma nova postura na forma como os evangélicos espanhóis se relacionam com as outras pessoas.
“Devemos aproveitar ao máximo este momento único. A secularização e a espiritualidade crescem. Portanto, eu diria novamente que precisamos mobilizar toda a Igreja. Precisamos ajudar todos a entender que fazem parte da equipe. Não é trabalho apenas dos nossos pastores ou evangelistas. É o trabalho de todos, diariamente, onde quer que estejamos”, declarou ele.
‘A evangelização na Europa é uma ideia de Deus’
Após a palestra, ele enfatizou a importância da evangelização — como o apóstolo Paulo fez — “entregando a nossa vontade, examinando o nosso coração e moldando a nossa mente por meio da Palavra de Deus”.
O pastor refletiu sobre a abordagem evangelística do apóstolo Paulo — enraizada em uma profunda compreensão das culturas locais e guiada pela aplicação da Palavra de Deus por meio do Espírito Santo — oferece insights para evangélicos que buscam pregar o Evangelho com ousadia no contexto europeu atual.
Em Atos 16, Paulo recebeu uma visão do homem na Macedônia implorando por ajuda: “Com a orientação de Deus, ele é chamado para a Europa. Então, esse é um ponto significativo na história e na narrativa bíblica”.
E continuou: “A Macedônia fica, é claro, na Europa, e a visão de Paulo levou à primeira missão evangelística neste continente. Mas, não foi ideia de Paulo pregar na Europa. Foi ideia de Deus. O Senhor mudou o itinerário da equipe. Esses homens se submeteram à vontade Dele”.
“Aquele único ato de entrega à orientação de Deus mudaria o curso da história europeia para sempre. Esta não era a missão de Paulo. Era a missão de Deus”, acrescentou.
‘Precisamos fazer isso’
Contudo, Hélder destacou que, ao pregar o Evangelho, é importante entender as diferenças culturais entre os povos, porque isso pode mudar a forma como a mensagem é transmitida.
Ele traçou um paralelo com os cristãos que estudam sobre as realidades espirituais do continente e se preparam para evangelizar os europeus.
“Em Atos 17, a mente de Paulo estava nas Escrituras, mas ele foi capaz de relacionar a mensagem à cultura que queria alcançar. Ele citou poetas gregos, por exemplo. E, portanto, contextualizar a mensagem, o que é muito diferente do que ele faz em Atos 13 ou Atos 14, quando fala para outros tipos de público”, observou o pastor.
Para Hélder, o desafio é que os cristãos percebam que eles também são chamados a contextualizar o Evangelho, e isso inclui a familiarização com as culturas europeias e com os povos a serem alcançados.
“Evangelismo é pregar o Evangelho, mas a maneira como o fazemos deve ser diferente dependendo do contexto. Seja profundo, mas seja relevante. Aplique uma hermenêutica cristocêntrica. Portanto, não pregamos a Bíblia nem Cristo. Pregamos ambos, sempre’, afirmou ele.
“Paulo passava um tempo caminhando e falava diariamente tanto nas sinagogas judaicas quanto no mercado. Ele estava ouvindo a cultura. Ele viu o altar dedicado a um deus desconhecido e, portanto, sua mensagem evangelística não começa com ‘Jesus te ama’, porque essas pessoas não têm um conhecimento bíblico”, acrescentou.
Por fim, Hélder também falou sobre a importância de contextualizar as mensagens dos cultos. Ele afirmou que os líderes devem pregar a Palavra de Deus de forma que faça sentido para o público atual, utilizando a apologética — explicando e defendendo a fé cristã com clareza e razão — especialmente ao realizarem os apelos.
“Para que, mais uma vez, estejamos sempre nos comunicando com não cristãos, contextualizando e definindo o vocabulário bíblico. Aliás, sei que isso acontece em todo o mundo, mas, pensando na Europa, nossas igrejas podem parecer muito estranhas para os não cristãos. E em muitos lugares aqui, onde os evangélicos são vistos como uma seita, precisamos construir essas pontes em nossa comunicação”, relatou ele.
“A oração sustenta todas essas atividades e precisa ser a prioridade. Precisa ser intencional”, concluiu ele.
