Um pastor cristão e ao menos 11 membros de sua família foram mortos em 16 de julho na cidade de Suwayda, no sul da Síria, durante uma série de confrontos entre milícias drusas e combatentes beduínos sunitas apoiados pelo governo, conforme informou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
O pastor Khalid Mezher, líder da Igreja Evangélica Bom Pastor e ex-seguidor da religião drusa, foi assassinado enquanto se escondia em casa com parentes. Entre os mortos estavam seis mulheres. Segundo o OSDH, “os criminosos abriram fogo diretamente contra todos dentro da casa, inclusive matando o cachorro da família, um ato que reflete a extrema brutalidade do massacre”.
O grupo de monitoramento atribuiu os ataques a “membros do Ministério da Defesa [sírio]”, embora outros relatos não tenham confirmado a identidade dos autores. A cidade, de maioria drusa, tem sido palco de violência intensa desde o início dos confrontos em 13 de julho.
Juliette Amor, assistente social local e colaboradora da organização cristã Portas Abertas, relatou ao Premier Christian News que “eles foram mortos quando se escondiam em casa, longe dos tiros de um grupo armado. Eles entraram na casa e mataram todos. Então, ele não foi morto por ser cristão, mas por ser de uma família drusa”.
Juliette esclareceu que o pastor, sua esposa e filha eram cristãos convertidos, enquanto os demais parentes pertenciam à comunidade drusa. Ela destacou que o líder evangélico mantinha um grupo de oração ativo, que visitava casas e anunciava o evangelho. “Ele estava servindo aos outros e fazendo com que acreditassem mais em Jesus, mas não foi morto por ser cristão. Acho que o grupo não sabia disso”, declarou.
Outros relatos sugerem que o número total de mortos no massacre pode ultrapassar 20. A cidade de Suwayda, anteriormente poupada de combates mais intensos durante a guerra civil, viu nas últimas semanas uma escalada de violência sectária, que incluiu ofensivas militares, ataques a civis e acusações de crimes de guerra.
Segundo o OSDH, no dia anterior ao massacre, forças do governo sírio teriam cometido execuções sumárias de civis desarmados durante uma operação militar. A organização pediu à ONU a criação de um comitê independente de investigação para apurar as violações ocorridas e responsabilizar os autores.
Além do massacre na casa de Mezher, Israel365News reportou que, dias antes, panfletos haviam sido espalhados nas portas de igrejas em Suwayda e Damasco incitando a jihad contra cristãos. Os textos mencionavam ameaças de decapitações, abuso de mulheres cristãs e saques a lares cristãos.
Desde a queda do presidente Bashar al-Assad, em dezembro de 2024, após 13 anos no poder, a Síria enfrenta um período de transição sob a liderança de Ahmed al-Sharaa. Mesmo após tentativas de cessar-fogo em 15 e 16 de julho, os confrontos entre drusos e beduínos continuaram. Líderes drusos, como Hikmat al-Hijri, conclamaram resistência armada, o que contribuiu para novos episódios de violência.
Segundo estimativas, mais de mil pessoas morreram nos confrontos da última semana. Relatórios apontam que grupos drusos também teriam cometido represálias violentas contra tribos beduínas, forçando cerca de 50 mil beduínos a se deslocarem em direção à cidade de Suwayda. As Forças Armadas do governo intervieram em 19 de julho para conter a escalada.
Diante do cenário de perseguição e violência sectária, cristãos na região permanecem vulneráveis. A comunidade cristã local e organizações de apoio à igreja perseguida continuam em oração e clamor por justiça, proteção e consolo para os sobreviventes e famílias atingidas pela tragédia, de acordo com informações do portal Christian Daily.