O pastor nigeriano Ezekiel Dachomo vive sob ameaças constantes de morte após denunciar, de dentro de uma vala comum, o genocídio contra cristãos em seu país e pedir ajuda internacional. O líder afirmou ter sido incluído em uma lista de pessoas marcadas para morrer.
“Minha vida está em grave risco. Já não consigo dormir tranquilo”, declarou Dachomo a jornalistas em Jos, no dia 24 de outubro. “Já fui atacado antes, mas escapei”, alertou o pastor, que desde 2018 vem apelando por ajuda.
As ameaças começaram depois da divulgação, em 15 de outubro, de um vídeo no qual o pastor aparece ao lado dos corpos de pelo menos 12 cristãos assassinados em aldeias da região de Barkin Ladi, no estado de Plateau. Segundo Dachomo, as vítimas foram mortas por extremistas fulanis.
No registro, ele critica o governo nigeriano por negar a existência de genocídio contra cristãos e apela diretamente aos Estados Unidos, ao Senado norte-americano e à ONU. “O governo diz que não há genocídio, mas olhem para estes corpos”, afirmou. “Peço ao presidente Trump que intervenha na Nigéria, assim como agiu no conflito entre Israel e Hamas. Cristãos estão sendo massacrados”.
Dachomo, que preside a Igreja de Cristo nas Nações (COCIN) na região, disse ter se tornado alvo tanto de extremistas quanto de oficiais militares, os quais o acusam de “incitar a população” por questionar a falta de resposta das forças de segurança. “Eles é que incitam a violência ao se recusarem a prender os agressores”, denunciou. “Chegou ao ponto de precisarmos recorrer à autodefesa; caso contrário, o nome de Jesus será silenciado em nossa terra”.
O pastor relata receber ligações e mensagens ameaçadoras todos os dias, inclusive pelas redes sociais. Apesar disso, afirma que gravou o vídeo também como registro histórico, “para que as próximas gerações vejam como os cristãos foram perseguidos”.
Ameaças com prazo
Relatos locais indicam que extremistas teriam estabelecido uma data para matá-lo. Em resposta, Dachomo gravou um novo vídeo declarando estar preparado para morrer por sua fé: “Se me sequestrarem, ninguém deve pagar resgate. Se eu morrer, meu sangue será semente para a libertação dos cristãos”, disse.
Um representante do Exército nigeriano visitou sua igreja e prometeu proteção. Enquanto isso, o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou publicamente considerar uma intervenção militar na Nigéria e o corte de ajuda internacional caso o governo não tome medidas concretas.
Paralelamente, líderes cristãos do estado de Borno divulgaram um documento detalhando anos de ataques, destruição e deslocamentos forçados na região de Gwoza, um dos epicentros da violência jihadista. A resposta foi motivada pela declaração de um senador muçulmano que havia negado a existência de genocídio contra cristãos.
Antes da insurgência do Boko Haram, iniciada em 2009, Gwoza possuía 176 grandes igrejas. Hoje, 148 foram queimadas e permanecem em ruínas. O documento denuncia ainda que cristãos enfrentam restrições para construir templos, enquanto mesquitas são erguidas livremente, e que o ensino religioso cristão foi retirado das escolas públicas.
A crise humanitária também é grave. Segundo o relatório, 107 mil cristãos de Gwoza vivem em acampamentos de deslocados, 50 mil estão refugiados em casas de parentes em outras cidades, e muitos permanecem fora de suas casas há mais de uma década. “Esses ataques não são isolados. Há um padrão claro sendo ignorado”, afirmam os líderes. “Pedimos verdade, responsabilidade e ação”.
Nigéria entre hostis
A Lista Mundial da Perseguição 2025, divulgada pela Portas Abertas, classifica a Nigéria como um dos países mais perigosos do mundo para cristãos. O relatório aponta que, das 4.476 mortes de cristãos registradas globalmente no último ano, 3.100 ocorreram na Nigéria.
Os ataques de grupos fulanis, do Boko Haram e do ISWAP continuam em crescimento, enquanto sequestros por resgate se tornaram frequentes. A violência já se espalha para o sul do país, com a atuação do grupo jihadista Lakurawa, ligado à Al-Qaeda e armado com tecnologia militar avançada.
Embora a etnia Fulani seja majoritariamente pacífica, relatórios internacionais indicam que facções radicais adotaram estratégias semelhantes às de organizações jihadistas, atacando cristãos e símbolos da fé.
Atualmente, a Nigéria ocupa a 7ª posição na lista da Portas Abertas entre os 50 países onde é mais difícil ser cristão.









































