O Departamento de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE) prendeu, em 22 de julho, o pastor Daniel Fuentes Espinal, de 54 anos, por permanecer no país após o vencimento de seu visto de visitante. Espinal, cidadão hondurenho, vivia há 24 anos em Maryland, onde liderava a Igreja do Nazareno Jesus Te Ama, em Easton.
Ele foi inicialmente detido em Salisbury, depois transferido para Baltimore e, posteriormente, para um centro de detenção federal no estado da Louisiana, onde aguarda uma audiência de imigração.
Segundo o ICE, Espinal entrou legalmente nos EUA com um visto de seis meses em 2001, mas nunca deixou o país. “É um crime federal ultrapassar o período de tempo autorizado concedido pelo visto de visitante”, declarou um porta-voz da agência.
Espinal foi abordado por agentes do ICE quando retornava de uma loja de materiais de construção e de um restaurante McDonald’s. De acordo com sua filha, Clarissa Fuentes Diaz, ele não compreendeu de imediato o motivo da abordagem. “Ele disse que os policiais foram gentis com ele”, afirmou à rede CNN.
Ainda conforme a família, Espinal não possui antecedentes criminais nem ordens anteriores de deportação. Ele enfrenta problemas cardíacos e estomacais e começou a receber a medicação adequada apenas após ser transferido para Louisiana. Durante sua detenção no escritório do ICE em Baltimore, ele dormiu sobre um banco de concreto, o que lhe causou dores articulares devido à febre e à falta de descanso.
Apesar das condições, a família relata que o pastor tem continuado a ministrar às pessoas ao seu redor, inclusive a agentes do ICE. “Ele está muito melhor do que em Baltimore. A enfermeira na Louisiana iria fornecer a medicação hoje”, disse sua filha ao jornal The Baltimore Banner.
Espinal é casado e tem três filhos, o mais novo com 18 anos. Sua esposa, segundo a filha, tem sofrido intensamente desde a prisão, sem conseguir comer ou dormir, preocupada com o bem-estar do marido. A comunidade local, onde o pastor atuava desde 2010 e liderava cultos desde 2015, também sente o impacto. Sandra Perez, membro da igreja, afirmou: “Ele não é um criminoso. Seu trabalho como pessoa, pai e pastor é necessário para a congregação”.
Uma campanha no site GoFundMe, criada para apoiar a família, arrecadou mais de US$ 29 mil até 27 de julho. A descrição da campanha destaca Espinal como “um pilar querido da nossa comunidade” e afirma que sua prisão “devastou sua família e traumatizou uma comunidade que depende tanto dele”.
A filha de Espinal informou ainda que estava no processo de se tornar patrocinadora legal do pai para obtenção do green card e que aguardava a entrevista com as autoridades migratórias quando a prisão ocorreu. Mais de uma dúzia de cartas de apoio foram enviadas por membros da comunidade à Justiça como parte do processo de defesa.
O caso do pastor ocorre em um contexto de aumento nas detenções de imigrantes nos Estados Unidos, reflexo da intensificação das ações de deportação prometidas pelo presidente Donald Trump em sua campanha. Organizações cristãs alertam que a política de deportações em massa pode impactar diretamente as igrejas do país, especialmente aquelas com presença significativa de imigrantes.
Outros casos
Em abril, uma coalizão composta pela Associação Nacional de Evangélicos e o Departamento de Serviços de Refugiados e Migração da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA estimou que 80% dos cerca de 10 milhões de imigrantes ilegais que correm risco de deportação são cristãos.
Casos semelhantes ao de Espinal têm ocorrido em diferentes estados. Em abril, Maurilio Ambrocio, pastor evangélico que liderava uma igreja na Flórida e cumpria há mais de dez anos uma suspensão de deportação, foi preso e deportado para a Guatemala após duas décadas nos EUA. Em junho, em Los Angeles, um pastor iraniano relatou a prisão de cinco membros de sua congregação por agentes federais, incluindo um casal que buscava asilo. O Departamento de Segurança Interna confirmou as detenções e afirmou que os dois cidadãos iranianos estavam “ilegalmente presentes nos EUA” e eram considerados “objetos de interesse da segurança nacional”.
O caso de Daniel Espinal segue em trâmite, com expectativa de audiência de imigração nas próximas semanas. Sua defesa trabalha atualmente na tentativa de garantir liberdade sob fiança enquanto o processo é analisado, de acordo com informações do portal The Christian Post.