O debate sobre a exigência do casamento civil como condição para que fiéis sejam batizados e participem da ceia do Senhor permanece presente em diversas igrejas evangélicas brasileiras. Enquanto alguns líderes defendem a formalização jurídica da união como critério doutrinário, outros adotam uma abordagem pastoral mais flexível, considerando a trajetória de fé e o testemunho individual dos membros.
Na Igreja Batista Monte Castelo (Ibamoca), em Teixeira de Freitas (BA), o pastor Celso Godoy declarou que a ausência de casamento civil não é impeditivo absoluto para o batismo: “Existem pessoas que estão firmes na igreja há muito tempo, que participam das atividades, são dizimistas, frequentam a escola bíblica dominical e, mesmo assim, não poderiam participar da ceia nem serem batizadas. Assim sendo, a gente abre exceção”, afirmou Godoy.
O pastor relatou o caso de uma mulher que frequentava a congregação havia duas décadas, mas que não possuía casamento civil com seu companheiro, que não é cristão. “Ela foi batizada em março e, naturalmente, passou a participar da ceia. Observamos caso por caso, porque há situações em que a pessoa quer regularizar sua vida e o cônjuge não quer. E, se for uma união sincera e fiel, batizamos, sim”, explicou.
Já o pastor Gilmey Meireles, coordenador do Projeto Viver Cariacica, no Espírito Santo, adota uma posição doutrinária mais restritiva, baseada nos princípios da Convenção Batista Brasileira (CBB). Ele citou um trecho da declaração da entidade: “A família, criada por Deus para o bem do ser humano, é a primeira instituição da sociedade, cuja base é o casamento, sendo sua natureza heterossexual, monogâmica e indissolúvel”.
Para Meireles, o casamento civil é um requisito inegociável: “A igreja é a noiva de Cristo. Quem tenta adaptar esse princípio em favor de ressignificações cai em erro grave”, afirmou. Ele também se posiciona contra o uso da união estável como alternativa. “A união estável pode ser registrada sem alterar o estado civil de solteiro. Por isso, não é a mesma coisa. Nós orientamos os fiéis a buscarem o casamento civil e só depois disso procedemos ao batismo. Se somos o povo da Bíblia, precisamos zelar pelo que nela está escrito”, declarou.
O pastor acrescentou que, em casos de dificuldades financeiras, os membros são orientados a buscar mutirões de casamento ou organizações parceiras que auxiliem com os custos do processo legal. “Quando alguém chega à igreja sem condições de pagar pelo casamento civil, orientamos a procurar mutirões de casamento ou parceiros que possam custear os trâmites legais”, explicou, de acordo com a revista Comunhão.
O contraste entre as abordagens evidencia a diversidade de interpretações sobre como aplicar os ensinamentos bíblicos à prática eclesiástica. De um lado, há líderes que enfatizam a institucionalização familiar como expressão da obediência à ordem divina. De outro, há aqueles que demonstram sensibilidade pastoral diante das realidades sociais, especialmente em contextos periféricos, onde a formalização civil nem sempre é possível.