Operação Rejeito revela rede que fraudava licenças ambientais e gerava R$ 1,5 bilhão em lucros ilícitos, enquanto riscos ambientais e sociais se multiplicam.
A Polícia Federal, em ação conjunta com a CGU, MPF e Receita Federal, deflagrou nesta quarta-feira (17) a Operação Rejeito, desarticulando um esquema de corrupção bilionário que operava no setor de mineração em Minas Gerais. A investigação aponta que fraudes em licenças ambientais permitiram exploração ilegal de minério de ferro em áreas protegidas, com impactos graves para ecossistemas e comunidades locais.
Prisões, bloqueios e desdobramentos da operação
Ao todo, foram expedidos 22 mandados de prisão preventiva:14 já cumpridos e 79 mandados de busca e apreensão, incluindo endereços em Belo Horizonte e Brasília, na sede da ANM. A Justiça Federal determinou o bloqueio de R$ 1,5 bilhão em bens de pessoas físicas e jurídicas envolvidas, enquanto projetos relacionados ao grupo criminoso poderiam gerar R$ 18 bilhões em receitas. Entre os presos estão Caio Mário Trivellato Seabra Filho, diretor da ANM, e outros servidores públicos de órgãos ambientais, além de empresários que coordenavam pagamentos de propina por meio de um grupo chamado “Três Amigos Mineração”.
O funcionamento do esquema
A fraude envolvia mais de 40 empresas, lideradas pela holding Minerar S/A, e operava via manipulação de processos em órgãos reguladores como ANM, IPHAN e FEAM. Entre 2020 e 2025, mais de 200 processos de licenciamento ambiental foram questionados por irregularidades. O grupo pagava propinas mensais para garantir aprovações rápidas, permitindo exploração em áreas de preservação e zonas de alto risco, como a Serra do Curral e o Parque Estadual da Serra do Rola Moça.
Impactos ambientais e econômicos
Especialistas destacam que fraudes em licenças ambientais elevam o risco de desastres semelhantes aos de Mariana e Brumadinho. A exploração ilegal contamina rios e solos, destrói habitats de espécies endêmicas e prejudica comunidades ribeirinhas e indígenas. Economicamente, enquanto o grupo lucrou R$ 1,5 bilhão, o Estado perdeu receitas fiscais e enfrenta custos futuros de remediação estimados em mais de R$ 5 bilhões.
Crítica ao sistema regulatório e necessidade de reformas
O caso expõe falhas sistêmicas na governança ambiental. Segundo especialistas, a captura de agências por interesses privados compromete a fiscalização e a integridade regulatória. Pesquisas apontam que fraudes em licenças ambientais representam cerca de 20% do desmatamento em Minas Gerais. A ANM reiterou compromisso com a legalidade e colaboração com autoridades, mas críticos afirmam que sem auditorias independentes e punições exemplares, o ciclo de corrupção persiste.
Riscos futuros e reflexões
A Operação Rejeito alerta para a vulnerabilidade do setor mineral brasileiro, onde interesses privados se sobrepõem ao bem comum. A sociedade paga o preço da negligência e da impunidade. Enquanto medidas de fiscalização e bloqueios financeiros trazem alívio imediato, sem reformas estruturais, o risco de novos desastres ambientais permanece alto. O episódio reforça a urgência de transformar a mineração em ferramenta de desenvolvimento sustentável, com transparência, responsabilidade e proteção ao meio ambiente.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação