O governo do Tajiquistão iniciou uma ampla operação para prender e deportar refugiados afegãos, muitos deles cristãos, concedendo a eles o prazo de 15 dias para deixar o país. A informação foi divulgada no dia 20 de julho pela agência de notícias afegã Khaama Press e confirmada pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).
A decisão afetou milhares de afegãos residentes no país, incluindo pessoas com permissão de residência válida ou status legal de asilo reconhecido por organismos internacionais.
Segundo a Khaama Press, o número de prisões aumentou consideravelmente nos últimos dias, com destaque para as regiões de Vahdat e Rudaki, localizadas nas proximidades da capital, Dushanbe. De acordo com os relatos, diversos homens afegãos foram detidos diretamente em seus locais de trabalho, sem aviso prévio e sem a possibilidade de informar seus familiares.
Fontes locais indicam que mais de 150 pessoas foram capturadas em mercados e espaços públicos no dia 19 de julho e deportadas imediatamente, conforme relato da Missão Portas Abertas.
O que tem gerado maior preocupação entre agências humanitárias é que muitos dos afetados pelas detenções possuem documentação legal. Entre os deportados, há pessoas com cartões de refugiado válidos emitidos por órgãos competentes e outras que estão no processo de reassentamento para países como o Canadá, aguardando a análise de pedidos de asilo em curso.
Embora as autoridades tajiques não tenham informado oficialmente os motivos da ação, analistas internacionais sugerem que a medida pode estar relacionada a recentes mudanças nas relações diplomáticas com o regime Talibã no Afeganistão.
Atualmente, grande parte dos refugiados afegãos no Tajiquistão está concentrada em Wahdat, distrito localizado a cerca de 20 quilômetros de Dushanbe. Com a intensificação das ações policiais, campanhas digitais foram iniciadas por grupos de apoio, pedindo ao governo canadense que acelere os processos de relocação ou promova evacuações emergenciais para solicitantes já registrados.
Organizações de defesa dos direitos humanos descreveram a situação como “caótica” e “alarmante”, e solicitaram intervenção internacional urgente para evitar que mais famílias sejam separadas ou expostas a risco.
Apesar da presença de entidades internacionais no território tajique, o governo local tem ignorado reiteradamente os apelos para o cumprimento de acordos internacionais de proteção a refugiados. O descumprimento de compromissos multilaterais tem levantado questionamentos sobre a efetividade dos mecanismos internacionais de supervisão e sobre a responsabilização diante das deportações em andamento.
Segundo especialistas em migração forçada, o cenário atual reflete uma tendência crescente na Ásia Central e no Sul da Ásia. Em meses anteriores, tanto o Irã quanto o Paquistão realizaram deportações em massa de afegãos. A combinação de políticas restritivas, lentidão nos programas de reassentamento e a ausência de novas rotas de asilo tem reduzido drasticamente as opções para refugiados afegãos.
Para milhares deles, o dilema é permanecer em países onde enfrentam risco de detenção e expulsão, ou retornar ao Afeganistão, onde podem ser perseguidos por razões políticas e/ou religiosas.