A Bolívia passará a ser governada, a partir de 8 de novembro, por um presidente de centro-direita. Em uma eleição considerada histórica, o senador Rodrigo Paz, de 58 anos, foi eleito no domingo, 19 de outubro, encerrando quase duas décadas de governos do Movimento ao Socialismo (MAS), liderado pelo ex-presidente Evo Morales.
Com 54,5% dos votos válidos, Paz, do Partido Democrata Cristão (PDC), superou o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga no segundo turno, consolidando uma mudança significativa no cenário político boliviano. Ao discursar após a confirmação da vitória, o presidente eleito agradeceu o apoio recebido e afirmou que pretende governar “com base em Deus, na pátria e na família”.
Ele também destacou a necessidade de “instituições fortes, segurança jurídica, respeito à propriedade privada e estabilidade econômica”, comprometendo-se a trabalhar “pelo direito ao trabalho e pela certeza do futuro”.
Durante a comemoração, Paz declarou: “A Bolívia vive um momento de mudança e renovação. Hoje, desde a nossa vitória, estendemos a mão para governar”. O discurso foi feito em La Paz e transmitido por redes nacionais e internacionais.
Visão social
De perfil conservador, Rodrigo Paz tem manifestado posição firme contra o narcotráfico e propõe uma cooperação internacional sob coordenação da ONU para o enfrentamento do tráfico de drogas. Em declarações recentes, afirmou que a DEA, agência antidrogas dos Estados Unidos, “nunca saiu totalmente da Bolívia”, e defendeu parcerias com Estados Unidos, Brasil, Europa e países asiáticos no combate ao crime organizado.
O novo presidente é contrário à descriminalização das drogas, mas defende a legalização da maconha para fins farmacêuticos, sob “regulação rigorosa e com finalidade econômica”. Também enfatiza que a família formada por homem e mulher deve ser reconhecida como “pilar básico da sociedade” e que as políticas públicas devem priorizar esse modelo.
Paz declarou ainda ser contrário à equiparação entre casamento civil e união homoafetiva, embora apoie direitos civis básicos, como acesso à herança e cobertura de planos de saúde. Em relação à pauta bioética, o presidente eleito se define como pró-vida e se opõe ao aborto, admitindo exceções apenas nos casos previstos em lei, como estupro.
Reconhecimento internacional
Em pronunciamento posterior à vitória, Paz afirmou que pretende “reabrir a Bolívia para o mundo”, com o objetivo de restabelecer o diálogo diplomático e econômico interrompido nos últimos anos. O portal boliviano El Deber informou que o novo governo busca ampliar a cooperação internacional, especialmente na área de energia e exportação de hidrocarbonetos.
O Secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, divulgou comunicado oficial em Washington, afirmando: “Os Estados Unidos parabenizam o presidente eleito Rodrigo Paz por sua eleição como presidente da Bolívia. Também parabenizamos o povo boliviano por este momento histórico para seu país”. Segundo Rubio, após “duas décadas de má gestão”, a nova liderança em La Paz representa uma oportunidade “transformadora” para ambos os países.
O comunicado foi a primeira manifestação internacional de alto nível emitida pelo governo dos Estados Unidos desde o resultado eleitoral. O texto também destacou a disposição americana para cooperar com o novo governo boliviano em questões estratégicas e econômicas.
Paz confirmou ter recebido mensagens de felicitação de outros líderes internacionais e mencionou o agradecimento ao Secretário de Estado Adjunto dos EUA, que manifestou apoio em nome do presidente Donald Trump e reiterou o compromisso de colaboração na área energética a partir de 8 de novembro.
Desafios econômicos
Filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora, Rodrigo Paz pertence a uma família tradicional da política boliviana. Nascido no exílio, na Espanha, construiu sua carreira pública como deputado, prefeito de Tarija e senador. Sua trajetória é marcada por uma transição ideológica: iniciou sua vida política no Movimento da Esquerda Revolucionária (MIR), fundado por seu pai, e ao longo dos anos adotou uma postura mais conservadora e pragmática.
Formado em Economia, o presidente eleito assume o governo em meio à pior crise econômica boliviana em quatro décadas, com inflação acima de 23%, escassez de combustíveis e reservas cambiais em níveis críticos. Analistas locais alertam que o novo governo precisará equilibrar promessas de campanha e realidade fiscal, adotando medidas de austeridade e atraindo investimentos externos para estabilizar a economia nacional.