Apreensão histórica reforça alerta sobre garimpo ilegal e rotas de contrabando na Amazônia.
A segunda-feira (4) entrou para a história da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Durante uma abordagem de rotina na BR-401, em Boa Vista (RR), os agentes descobriram 103 kg de ouro escondidos no painel de uma Toyota Hilux. Avaliado em cerca de R$ 61 milhões, segundo a cotação do Banco Central, o carregamento é o maior já apreendido pela PRF no Brasil e reforça um alerta antigo: o avanço do garimpo ilegal e das rotas de contrabando na Amazônia.
O motorista, de 30 anos, foi preso em flagrante. Ele trabalha na área de construção civil e estava acompanhado da esposa e de um bebê de 9 meses. A presença da família parecia uma tentativa de disfarçar o transporte do ouro, dividido em barras. A PRF revelou que notou sinais de adulteração no veículo e decidiu aprofundar a vistoria, que terminou na descoberta histórica.
Ouro pode ter vindo de Rondônia e seguiria para o exterior
As investigações iniciais apontam que o ouro tem fortes indícios de origem em Rondônia, estado com histórico de mineração irregular, especialmente em áreas próximas a terras indígenas e unidades de conservação. Autoridades federais suspeitam que o minério seguiria para países vizinhos, como Venezuela e Guiana, rotas conhecidas de contrabando na região Norte.
Relatórios do Ministério Público Federal e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) já mapearam redes organizadas que exploram ilegalmente a Amazônia, utilizando caminhonetes, pistas clandestinas e barcos para driblar a fiscalização e escoar toneladas de minério extraído sem autorização.
Garimpo ilegal: crime ambiental e social
A apreensão traz à tona um problema crônico. O garimpo ilegal na Amazônia causa desmatamento, contamina rios com mercúrio e ameaça comunidades indígenas, como os Yanomami, que enfrentam uma crise humanitária agravada pela invasão de suas terras.
Em Roraima, o governo federal instalou a Casa de Governo em 2023 para coordenar ações contra o garimpo, com investimento de R$ 1 bilhão. Apesar disso, apreensões como a de segunda-feira mostram que as redes criminosas seguem ativas e ousadas.
Em Rondônia, áreas como a Floresta Nacional do Jamari e a Terra Indígena Roosevelt também sofrem com a presença de garimpeiros. A suspeita de que o ouro apreendido tenha saído de lá reforça a necessidade de integração entre estados e governo federal para conter o avanço dessas atividades.
Apreensão histórica e próximos passos da investigação
A PRF informou que esta é a maior apreensão de ouro já realizada no país. Para efeito de comparação, o recorde anterior em Roraima era de 21 kg, registrado em 2024.
O minério e a caminhonete foram encaminhados à Polícia Federal, que vai investigar a origem exata do ouro, os envolvidos na extração e os possíveis financiadores da operação. O veículo, uma Hilux 2024, não está registrado em nome do motorista, o que reforça a suspeita de participação de uma rede organizada.
Enquanto a PF rastreia a cadeia criminosa, o caso repercute nas redes sociais e levanta debates sobre o controle das fronteiras e a responsabilidade das autoridades locais. “103 kg de ouro não somem da terra sozinhos. Isso mostra que o garimpo ilegal está fora de controle”, comentou um internauta de Porto Velho.
Mais que um recorde policial, a apreensão é um retrato da complexa engrenagem do garimpo ilegal: redes criminosas, impactos ambientais devastadores e falhas de fiscalização que atravessam décadas.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação