Hernanes teve uma carreira ímpar no futebol, passando pela Seleção Brasileira e grandes clubes do Brasil e Europa, como São Paulo, Lazio, Internazionale e Juventus.
O que muitos não sabem é que por trás do “profeta” existe a história de um homem que amadureceu sua fé em Jesus Cristo ao longo dos anos.
É isso o que ele compartilha no livro “Carta do Profeta”, seu recente lançamento pela Citadel Grupo Editorial.
“O que me levou a escrever esse livro foi a percepção de uma confusão. São 20 anos que eu leio, pratico, estudo e faço da Bíblia o meu norte. Com o passar dos anos, fui amadurecendo o meu entendimento e notei uma confusão no entendimento e na interpretação da Bíblia”, disse Hernanes em entrevista exclusiva ao Guiame.
Assista a entrevista completa:
Encontro com Jesus
Hernanes cresceu no interior de Pernambuco e, aos 15 anos, se mudou para São Paulo em busca de tentar uma oportunidade no futebol profissional. Foi na grande metrópole que ele conheceu Deus mais de perto.
“Em Pernambuco eu vivia em um lar católico e frequentava a igreja apenas em ocasiões especiais. Me lembro da Bíblia aberta na cômoda da minha mãe, mas eu não tinha conhecimento algum sobre aquele livro”, contou.
Em São Paulo, longe da família, Hernanes foi convidado por um amigo durante as concentrações para ir à igreja. Era 2001 e ele tinha apenas 16 anos. Ele aceitou o convite e tudo mudou desde então.
“Não sabia do que se tratava. Eu era completamente alheio a esse mundo religioso. Chegando lá eu me encantei com a mensagem e, naquele dia, a minha jornada começou. Eu aceitei a Cristo, comprei uma Bíblia e comecei a ler e a esquadrinhar com muita avidez. Eu era faminto pelo conhecimento”, revelou.
Depois de fazer diversos testes, Hernanes ingressou nas categorias de base do São Paulo no final de 2001. Foi um processo que envolveu sua recente descoberta sobre Deus.
“Se não fosse a minha confiança de que Deus abriria as portas, eu não teria conseguido. Cheguei no São Paulo aos 16 anos de idade e, aos 20, após quatro anos, o pessoal ainda não acreditava que eu fosse me tornar jogador profissional do São Paulo — tanto que não fizeram contrato”, contou.
“Nessa época, a minha confiança na Palavra foi fundamental, porque eu guardava no meu coração que eu iria jogar no São Paulo”.
Hernanes compartilhou uma experiência de fé após ouvir uma declaração do técnico do São Paulo na época, Emerson Leão: “Neste momento, a categoria de base não tem nenhum jogador que possa ser aproveitado no time profissional.”
“Essa frase saiu em um jornal. Eu lembro que eu recortei essa frase, coloquei na Bíblia como marca-página no texto em que Senaqueribe enviou uma carta para o rei de Judá, Ezequias, dizendo: ‘Vamos acabar com o seu exército’. O rei Ezequias pega a carta e a apresenta a Deus. Eu vi aquilo no jornal e disse: ‘Não aceito essa palavra, eu vou conseguir’. A minha vida com a Palavra e minha confiança em Deus era inabalável. Isso fez com que eu pudesse perseverar um pouco mais e a situação de repente mudou.”
O significado de profeta
Desde o início no São Paulo até sua aposentadoria, o meia ficou conhecido como “Profeta”. Para ele, isso era mais do que um simples apelido.
“Eu não me enxergava como tal”, confessa. “A minha vida com Deus foi marcada por dois desejos muito fortes: agradar a Deus e ter as experiências que os profetas tinham.”
“Como eu nunca tinha ouvido claramente Deus dizer ‘é isso’ ou ‘é aquilo’, como os profetas da antiguidade, eu não me considerava um profeta. Só que hoje, qual o sentido da palavra profeta? Por mais que eu não tenha tido essa experiência audível, Deus fala comigo de maneira diferente”, ele avalia.
Hernanes explica que o Espírito Santo ensina e guia os cristãos, mas nem sempre de forma audível como acontecia com os profetas.
“Isso muitas vezes acontece em nossa consciência. É uma voz interior. São alertas que você vai tendo durante o caminho. O profeta é aquele que consegue ouvir uma mensagem de Deus, e que tem uma mensagem de Deus para passar às pessoas”, ele observa.
Usado por Deus
O ex-jogador acredita que cada campo de atuação pode se tornar um campo missionário. Mas quando se trata de evangelizar seus colegas de profissão, ele acredita que “ministramos mais com a nossa vida do que falando”.
“Vivemos em um tempo onde a fé está muito difundida, todos já ouviram falar. Se você quiser forçar as coisas, se torna um pouco demasiado. Eu sempre busquei testemunhar com a minha vida.
Nas concentrações, caso surgisse uma oportunidade de expor a Palavra, eu sempre fazia com bom gosto. Mas o mais importante era o testemunho de vida”, ele afirma.
Hernanes se considera uma pessoa “sem meio termo” e muito “autodidata”. Foi isso o que o impulsionou a mergulhar nas Escrituras.
“Quando eu comecei a ler a Bíblia de Gênesis à Apocalipse, no início da caminhada, vi Jesus dizendo no Novo Testamento: ‘Se alguém bater em você numa face, ofereça-lhe também a outra’. Eu lia, entendia e obedecia. Quando eu tinha 17 ou 18 anos, houve um jogo em que um cara bateu na minha cara. Eu literalmente disse ‘bate na outra’ e ele bateu também. Eu ainda saí contente — obedeci a Palavra.”
Hernanes se aposentou do futebol em 2022, aos 36 anos. (Foto: Instagram/Hernanes)
Por outro lado, Hernanes passou a perceber que “se você tiver somente o desejo de obedecer e não tiver entendimento, a Palavra mesmo pode ser um motivo de prisão para você”.
“Devemos ter entendimento e eu só pude ter a ideia essencial das Escrituras depois de ter uma certa idade”, disse ele.
Carta do Profeta
Foi isso o que o levou a escrever o livro “Carta do Profeta”; a percepção de que há “muita confusão” no entendimento da Bíblia.
“Por exemplo, no Brasil pegamos o Evangelho e misturamos com o judaísmo — deixando claro que não tenho nada contra o judaísmo. Eu amo os judeus, eles são a prova de que Deus existe, porque é ignorância não reconhecer a fidelidade com que Deus os guardou nos séculos. Mas a aliança que Deus tem com os judeus é uma coisa, e não se relaciona com a aliança que Cristo tem com a Igreja”, Hernanes avalia.
“Do outro lado, eu vejo uma mistura do Evangelho com o paganismo de Roma. Eu morei em Roma, na Itália, e consegui identificar isso.”
Sua intenção como autor, segundo Hernanes, é apresentar o Evangelho como remédio para a alma de todo homem, de uma forma clara e contextualizada.
“Eu vejo as pessoas nas igrejas cansadas, sobrecarregadas, querendo ter uma fé honesta, mas por não ter esse entendimento e por causa de muitas cobranças que a religião impõe, as pessoas não conseguem ter uma fé livre. E quando eu digo livre não é para fazer as obras da carne. O Evangelho tem que ser entendido para ser vivido, para que com o coração livre possamos adorar a Deus”, disse ele.
Em seu livro, Hernanes mostra que o Evangelho tem o poder de libertar a alma humana de 6 coisas: do medo, da ignorância, da necessidade de aprovação, da culpa, da autocondenação e da vaidade dos próprios pensamentos.
“A carta é apenas a expressão de um coração desejoso de agradar a Deus, e não uma tese teológica. É uma forma de transmitir uma mensagem sobre os anos da minha vida com Deus”, finalizou.
FONTE: GUIAME, LUANA NOVAES