O teólogo e arcebispo Thomas Paul Schirrmacher analisou os 100 primeiros dias do novo papa da Igreja Católica, Leão XIV. Segundo ele, o resultado surpreendeu muitos observadores, já que o eleito, um cardeal americano, “não era um dos grandes influenciadores da Cúria” e era pouco conhecido mesmo entre os mais informados.
Schirrmacher destacou que o novo papa é “bem-educado e relativamente jovem”, o que pode garantir-lhe um pontificado de duas décadas. Ele recordou ainda palavras do papa Francisco, pouco antes de sua morte, de que “um personagem completamente diferente deveria agora seguir para dar continuidade ao que Francisco havia conquistado”.
Entre Bento XVI e Francisco
Na avaliação publicada no Christian Daily, Schirrmacher afirma que Leão XIV adota um estilo de liderança que se situa “entre Bento XVI e Francisco”. Ele observou que o pontífice “não se separa de seus guarda-costas como Francisco” e ao mesmo tempo “se movimenta com muito mais liberdade e sem proteção do que Bento XVI jamais fez”. Também em relação à produção de textos, o novo papa recorre à equipe de assessores, diferentemente de Francisco, que “gostava de redigir suas próprias declarações sociopolíticas e não se entusiasmava com a ideia de que fossem editadas”.
Perfil político
O papa americano é percebido como “politicamente de esquerda”, afirmou Schirrmacher, ressaltando que isso se evidencia inclusive na escolha do nome. Ele lembrou que, em janeiro de 2025, Francisco nomeou Robert W. McElroy, crítico de Donald Trump, como arcebispo de Washington. Segundo Schirrmacher, a eleição de Leão XIV também reflete a composição do Colégio Cardinalício: “57,8% dos cardeais com direito a voto vêm do Sul Global”, observando que, no total, “109 cardeais, ou 80,7% do total, foram nomeados por Francisco”.
A disputa com Pietro Parolin
Entre os concorrentes, o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, figurava como favorito. “Segundo alguns relatos — a divulgação de tais informações é oficialmente proibida —, o Cardeal Parolin recebeu 59 votos no primeiro escrutínio, enquanto o Cardeal Prévost recebeu 49”, escreveu Schirrmacher. Parolin teria desistido, o que abriu caminho para a vitória de Leão XIV, que superou os 100 votos no quarto escrutínio.
Formação e experiência
Schirrmacher ressaltou a sólida formação do novo pontífice: “Estudou primeiro matemática e filosofia (1973-1977), depois teologia (1978-1982) e, por fim, direito canônico (doutorado em 1987). Nenhum papa na história teve uma formação tão ampla”. Ele acrescentou que o papa acumula “experiência de liderança mais ampla do que qualquer outro papa antes dele”, com passagens pelo Peru, Roma e Cúria Romana.
Estilo pastoral
Embora menos carismático que Francisco ou João Paulo II, Schirrmacher disse que Leão XIV “costuma dedicar mais tempo a conversas individuais do que Francisco”. Ele relatou uma cena em que o papa chamou cada casal recém-casado individualmente para abençoar, em vez de proceder coletivamente, o que prolongou a audiência.
Sobre o diálogo com evangélicos e protestantes, o autor declarou: “Nada se sabe sobre as opiniões do novo papa sobre o ecumenismo. Ele pode nos surpreender, mas, no momento atual, lhe falta experiência ecumênica”. Schirrmacher afirmou que a prioridade de Leão XIV parece estar em “fortalecer as relações com a Igreja Ortodoxa e outras igrejas antigas, em vez de com as igrejas protestantes tradicionais ou evangélicas”.
O autor também destacou o apelo crescente da Igreja Católica entre os jovens, mencionando que em Roma é frequente encontrar grupos evangélicos atraídos pela vida católica. “A Igreja Católica também está superando os evangélicos no contexto da fé digital, com uma série de jovens influenciadores católicos romanos em todos os países”, observou.
Perspectivas
Schirrmacher concluiu que a eleição de Leão XIV reúne em um só perfil os aspectos contrastantes da Igreja. “Deixando de lado as questões da verdade e simplesmente perguntando se o novo papa conseguirá manter unida a maior comunidade e organização religiosa do mundo, que alguns diriam estar se distanciando, é preciso concluir que, se alguém consegue, é Leão”.
O autor, arcebispo e professor Thomas Paul Schirrmacher, é presidente do Conselho Internacional da Sociedade Internacional de Direitos Humanos em Frankfurt e do Instituto Internacional para a Liberdade Religiosa. Atuou como secretário-geral da Aliança Evangélica Mundial de 2021 a 2024 e acompanha de perto as relações entre católicos e evangélicos em nível global.