O ex-capitão do Bope do Rio de Janeiro, Rodrigo Pimentel, relatou experiências que revelam a presença marcante da religião nas forças de segurança e nas comunidades dominadas pelo crime.
Em entrevista ao podcast Inteligência Ltda., apresentado por Rogério Vilela, ele participou ao lado da jornalista e pesquisadora Viviane Costa, que estuda o impacto da fé nas favelas cariocas e nas instituições policiais.
Pimentel, conhecido por inspirar o personagem Capitão Nascimento do filme Tropa de Elite com seu trabalho nas operações especiais do Rio de Janeiro, contou episódios que demonstram a influência do cristianismo evangélico entre policiais. Um dos relatos mais marcantes envolve um pastor que interrompeu um tiroteio apenas com uma Bíblia nas mãos.
“Ele ergueu uma Bíblia no meio da rua e começou a atravessar. O pastor atuou como mediador, era certamente pentecostal. Em meio ao tiroteio, com a Bíblia na mão, os bandidos pararam de atirar”, lembrou o ex-capitão.
O policial ferido na ocasião foi levado para uma igreja próxima, onde morreu. Segundo Pimentel, poucas horas antes, o agente havia confidenciado: “Capitão, eu voltei para a minha esposa e voltei pra Jesus”.
O relato, segundo ele, é um exemplo de como a espiritualidade molda a rotina de policiais que vivem em confronto constante com a violência.
Conversões nas favelas
A jornalista Viviane Costa explicou que, nos anos 2000, os testemunhos de conversão — tanto de policiais quanto de ex-criminosos — se tornaram um fenômeno comum nas igrejas evangélicas das periferias do Rio de Janeiro.
“Os testemunhos de conversão dominavam os púlpitos evangélicos. Era o ‘ex-bandido’, o ‘ex-viciado’, o ‘ex-traficante’. Eles contavam suas histórias e se tornavam pregadores itinerantes”, afirmou.
Viviane relatou ter presenciado cultos em que ex-criminosos mostravam marcas de tiros e relatavam experiências próximas da morte.
“Muitos diziam que ouviram no hospital: ‘Você não vai morrer, porque Deus tem um plano na sua vida’. E dali saíam transformados, pregando o Evangelho.”
Segundo ela, essas narrativas de conversão serviam como instrumento de reintegração social e moral, tanto para quem havia deixado o crime quanto para quem atuava nas forças de segurança.
“Aceitou Jesus” em operação
Pimentel também relatou o caso de um capitão do Bope que era pastor da Assembleia de Deus. Durante uma operação na Floresta da Tijuca, a equipe encontrou um homem ferido após um confronto.
“O bandido tinha perdido um olho e estava morrendo por hemorragia. O capitão, que também era pastor, chamou um helicóptero da Polícia Civil e pediu resgate”, contou.
Questionado sobre o motivo do pedido, o oficial respondeu: “Porque o bandido aceitou Jesus”.
Para Pimentel, o episódio mostra como a religião atua como ponte entre o confronto e a misericórdia, influenciando decisões até em momentos de guerra urbana.
Transformação pessoal
Durante o programa, Viviane compartilhou também uma história pessoal sobre a conversão de seu pai, então policial: “Minha mãe se converteu primeiro e começou a orar pela conversão dele. Eu tinha cinco anos quando comecei a ir aos cultos de libertação pedindo para que Deus o salvasse”, relatou.
Segundo ela, o pai enfrentava problemas com o alcoolismo e a infidelidade, o que afetava a família. Apesar das dificuldades, a mãe manteve-se firme na fé.
“Ela disse: ‘Se só posso ir um dia, vou ao culto de libertação’. E foi assim que Deus transformou meu pai”, afirmou.
Anos depois, o pai de Viviane se converteu e tornou-se presbítero da Assembleia de Deus, experiência que, segundo ela, “mudou completamente o rumo da família”.
Religião nas periferias
Os relatos apresentados no podcast apontam para o papel central da fé, tanto na reintegração de ex-criminosos quanto no equilíbrio emocional e moral de policiais.
Para Pimentel, a fé é uma força silenciosa, porém decisiva, nos bastidores da segurança pública. Já Viviane destaca que, nas comunidades, as igrejas exercem um poder simbólico que frequentemente supera o das instituições estatais.
O episódio reforça, segundo ambos, a complexa relação entre violência, espiritualidade e transformação pessoal, mostrando como a fé cristã se tornou um fator determinante na vida de muitos agentes e moradores das periferias do Rio de Janeiro.






































