Apesar da dificuldade em tratar o tema do abuso sexual infantil, especialistas destacam que o diálogo claro e aberto com as crianças continua sendo a forma mais eficaz de prevenção. Nesse contexto, materiais didáticos voltados ao público infantil têm ganhado espaço como ferramentas de orientação e proteção. Um dos exemplos mais recentes é o livro PARE, escrito pela pedagoga e autora Vitória Reis.
A obra, voltada a crianças em fase de alfabetização, utiliza rimas, ilustrações e metáforas visuais para abordar temas como respeito ao próprio corpo, noções de intimidade e limites pessoais.
A autora – que tem dedicado bastante esforço em combater a cultura do abuso – afirma que o conteúdo foi desenvolvido para oferecer uma linguagem simples e direta, sem recorrer a eufemismos ou omissões quanto aos nomes biológicos das partes do corpo.
O livro apresenta um recurso pedagógico baseado nas cores de um semáforo: a cor verde representa as partes do corpo que podem ser tocadas, como mãos e braços; o amarelo indica regiões que exigem atenção e cautela; e o vermelho delimita áreas íntimas que não devem ser tocadas sob nenhuma circunstância. A proposta, segundo a pedagoga, é ajudar a criança a compreender com clareza quais toques são aceitáveis e quais ultrapassam seus limites.
Além disso, PARE ensina as crianças a reconhecer sinais de risco, como toques inadequados, segredos que provocam medo, ou qualquer atitude que gere desconforto. A escritora reforça que, diante de qualquer situação suspeita, a criança deve procurar imediatamente um adulto de confiança — como pais, avós, professores ou responsáveis — e que nunca deve se calar, mesmo que o agressor seja alguém próximo.
A publicação do livro ocorre em um cenário preocupante. Em menos de dois anos, o Brasil passou da 27ª para a 5ª posição no ranking mundial de denúncias de abuso sexual infantil, segundo relatório divulgado pela rede internacional InHope. A entidade, que atua globalmente no enfrentamento à exploração sexual de menores, destacou o país como um dos que mais registraram aumento de denúncias no período recente.
O dado, considerado alarmante por especialistas, evidencia a necessidade de ampliar o debate público sobre o tema e fortalecer formas de prevenção. Conforme aponta a pedagoga, o livro PARE busca contribuir para esse esforço, ao oferecer às famílias uma ferramenta prática e sensível para iniciar conversas difíceis, mas essenciais para a proteção da infância.
A discussão sobre abuso infantil, embora delicada, tem sido cada vez mais tratada com seriedade por pedagogos, psicólogos e líderes comunitários. A inclusão de materiais como o livro PARE nas rotinas educacionais pode ser um passo importante na formação de uma cultura de prevenção, especialmente em um país onde ainda há resistência para tratar o tema com a devida transparência.
Palestrante cristã cobra resposta à cultura ‘vai novinha’, que erotiza infância de meninas